Recebi estes dias uma sugestão de um blogueiro assíduo deste cantinho "Deus é Amor", para me pronunciar sobre um dos temas que muita admiração tem gerado nestes últimos tempos, no que diz respeito à possibilidade das missas em latim.
Os media, como sempre em questões do género, dão a volta ao texto como bem lhes apetece. Servem a sua agenda mais ou menos escondida (tal como em muitos outros contextos religiosos!) de ridicularizar a Igreja.
Aquilo que muito simplesmente foi declarado pelo Cardeal Bertone é que irá ser decretada a permissão de se poder celebrar a missa em latim sem ser necessária uma autorização especial do bispo. O documento, segundo tenho conhecimento, ainda não saiu. Porquê esta autorização?
A missa em latim, nunca oficialmente suspensa, foi caindo em desuso depois da reforma litúrgica do Concílio Vaticano II, e, em 1982, o Papa João Paulo II decretou que, para oficiar a cerimônia tridentina, é preciso recolher assinaturas e pedir a permissão ao bispo da diocese onde se deseja celebrá-la, que pode rejeitar o pedido. Porque se decretou a necessidade deste pedido de autorização?
Porque há um grupo de cristãos que nunca aceitou a renovação litúrgica do Concílio Vat. II, os seguidores de Monsenhor Lefebvre, fundador da Fraternidade Sacerdotal de São Pio X em 1968, ferrenha defensora da tradição e da liturgia tridentinas (em latim) e que foi excomungado pelo Vaticano em 30 de Junho de 1988 após ter consagrado quatro bispos sem permissão de Roma.
Aquilo que Bento XVI pretende (entre outras coisas) com a permissão da celebração da missa em latim é:
1. Facilitar o processo do uso da liturgia em latim para celebrações internacionais (como em Fátima, por exemplo);
2. Aproximar de novo à Igreja Católica os seguidores de Monsenhor Lefebvre, aceitando assim também a sua forma tradicional de celebrar os sacramentos. É que de facto era muito triste irmãos e irmãs separadas da Igreja por uma razão de linguística (a questão é mais complexa do que isto...);
3. O Papa acompanhará o documento com uma carta a expôr as razões desta decisão... aguardemos!
Isto NÃO significa que:
1. vamos agora ter as missas de todos os domingos em latim;
2. que a Igreja agora só vai comunicar em latim;
3. que todos vamos ter que saber latim para sermos cristãos;
Segundo entendo, a língua nativa de cada povo deve ser a língua em que os sacramentos irão continuar a ser celebrados. Até porque não faria sentido ser de outra maneira. E o latim não vai ser imposto a ninguém. Apenas e só se quer salvaguardar uma tradição que tem já muitos séculos (desde o séc. XVI no Concílio de Trento) e que foi marca do caminho da Igreja no mundo. Apenas e tão só isto, creio eu!
Etiquetas: Latim, Missa