sexta-feira, fevereiro 29

Quénia: "BOM ANO NOVO"

"A sensação que se respira por aqui é de alívio, pelo final de um dos momentos mais negros da história recente deste país e pelo início de uma nova etapa" diz o P. Gigi Anataloni, missionário da Consolata à MISNA pouco depois da assinatura do acordo entre o presidente Kibaki e o líder da oposição Raila Odinga, um feito que deverá por fim à crise pós-eleitoral assinalada, segundo alguns números divulgados, entre 1000 a 1500 vitimas mortais e de várias centenas de milhar de deslocados. "O facto que os dois políticos assinaram um acordo diante das câmras televisivas reforça a importância do empenho assumido - acrescenta o religioso - restituindo aos quenianos a fé no futuro."
Vários festejos começaram pouco depois do anúncio, mesmo noutras cidades do país, teatro de confrontos e violência étnica nas últimas semanas. "Em Kisumu as pessoas saíram à rua a cantar e a bailar, enquanto os "matatus" (minibus transportes públicos), cheios de gente, circulam businando como se tratasse de uma vitória numa partida de futebol" diz Joseph Otieno ao telefone, no meio de muito ruído celebrativo de alegria e do tráfico. Em Eldoret "a população reuniu-se para uma procissão espontânea, onde cantam cânticos pela paz, enquanto as luzes das casas permanecem acessas em sinal de festa" diz Nixon Oira, da Comissão de Justiça e Paz da diocese local, com voz a tremer de emoção. Francis Murei, da diocese de Kericho, falando ainda dos habitantes de Eldoret e Naivasha sublinha: "As pessoas estão felizes e quase a querer apagar os dois últimos meses, estão a enviar votos de bom ano novo com mensagens celulares de «Happy New Year»; realmente, para o Quénia, começa hoje um novo ano."

Nem todos felizes
Mas, para alguns Kikuyu, segundo o jornal Daily Nation do Quénia, a assinatura deste acordo por parte de Kibaki, foi uma traição. Segundo o jornal a alegria não terá sido tão eufórica e entusiasta por parte da comunidade Kikuyu, uma vez que vê o seu presidente perder poder e ao mesmo tempo, de alguma forma, admitir ter perdido as eleições, diz o jornal.
Para alguns, os tempos dificeis começam agora: levar o acordo a ser implementado e o primeiro passo é leva-lo a passar no Parlamento; certamente que alguns ministros irão perder a sua pasta ministerial por parte do Governo, o que trará dificuldades. Essa sim será a hora de ver quem põe interesses pessoais acima dos da nação.

Fontes:
MISNA, BBC, Daily Nation (jornal queniano) e Nation TV (do Quénia em inglês)

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quinta-feira, fevereiro 28

Quénia: Kibaki e Odinga assinam acordo de partilha de poder

Finalmente! Por fim, o Presidente Kibaki e Raila Odinga assinaram um acordo em que ambos irão partilhar o poder através da criação do cargo de primeiro ministro (ver reportagem BBC final desta mensagem).
O acordo, conseguido pelo Presidente em exercício da União Africana Jakaya Kikwete, presidente da Tanzania e ainda por Kofi Annan, verá a criação de uma grande coligação partilhando o poder de acordo com a maioria do partido no Parlamento.
O acordo prevê que o PM coordenará e supervisionará os Ministérios, enquanto que as pastas ministeriais serão partilhadas proporcionalmente de com o partido com maioria no Parlamento.
O presidente terá a autoridade de depor membros dos ministérios, mas somente com o acordo escrito dos líderes do partido respectivo da coligação.
A coligação terminará nas seguintes condições: no final do presente Parlamento, se as partes assim acordarem ou se um dos partidos decidir sair da coligação.
A assinatura do acordo em Harambee House em Nairobi foi testemunhada por diplomatas e transmitida em directo pela televisão nacional.
O Presidente Kibaki e Odinga assinaram primeiro o acordo seguindo-se depois as assinaturas do presidente em exercício da UA Kikwete e Kofi Annan como testemunhas.
O acordo foi o resultado de um encontro de cinco horas presidido pelo presidente Kikwete (actual presidente em exercício da UA e presidente da Tanzania) envolvendo também Kofi Annan, com Kibaki e Odinga.
Os primeiros sinais do acordo alcançado surgiram quando Kofi Annan, pouco depois do encontro ter terminado às 3 da tarde (meio dia em Portugal), disse aos jornalistas que teriam conseguido um acordo e que os detalhes do mesmo seriam tornados públicos depois de uma hora.
Ambos Kibaki e Odinga estiveram presentes no local das negociações acompanhados por alguns dos negociadores mas ainda não é claro se estes tomaram parte no encontro onde se alcançou o acordo.
Nas declarações de ambos os líderes em disputa foram perceptiveis intenções de querer levar o país a bom porto depois de todas estas semanas de incertezas. De acordo com declarações da BBC Kibaki, no seu discurso, afirmou que no "Quénia tem que haver lugar para todos" e que é essencial resolver este impasse para que o país progrida. Por seu lado, Odinga, reconheceu nas suas palavras pela primeira vez desde as eleições Mwai Kibaki como Presidente do Quénia, algo que tinha sempre recusado desde que a crise política estalou.

"Graças a Deus as nossas orações estão a ser ouvidas: paz no Quénia e entre os dois líderes políticos e seus apoiantes" - escreveu por sms uma colaboradora do missionário da consolata em Nairobi Pe. Gigi Anataloni.

Fontes: Daily Nation (diário do Quénia), BBC e MISNA

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quarta-feira, fevereiro 27

Quénia: político julgado por incitamento à violência

Um tribunal de Nakuru (no oeste do país) incriminou por incitamento à violência o político Jackson Ng'etich Kibor, natural de Eldoret, um dos primeiros casos relacionados com a violência pós-eleitoral dos ultimos meses levados diante da justiça. O réu é acusado de incitar a revolta da população no distrito de Uasin Gishu, encorajando-a a atacar a comunidade kikuyu "para pressionar" o presidente Kibaki. Isto segundo palavras a ele atribuídas por parte de testemunhas: "expulsar os kikuyus para fora do Rift Valley." "Nós queremos unir todas as outras 41 tribos e pôr os Kikuyu fora. Dividiremos o Quénia" terá afirmado. O político negou as acusações dizendo que essas não foram palavras suas. Amanhã o tribunal decidirá sobre o pedido de caução enquanto se espera pelo julgamento marcado para Abril. A acusação não excluiu ainda a possibilidade de juntar a imputação contra Kibor de homicídio.
Continua-se, entretanto, a investigar sobre a violência que se seguiu aos resultados eleitorais de Dezembro passado; uma investigação feita pelo Instituto de medicina legal queniano, mostra percentagem elevada de vítimas mortas por armas de fogo o que suporta a tese de suspeita de excesso de uso da força por parte das forças de segurança, pelo menos em algumas zonas. Circunscrevendo a análise somente sobre as vítimas a que foi possível submeter a autópsia, 43% das pessoas mortas de um total de 91%, naquelas provincias ocidentais, foram executadas por disparos na cabeça, abdómen e torax. Em 29% destes casos, diz a autoridade médica legal, os familiares destas vítimas acusaram as forças de segurança de ter disparado sobre eles, citam testemunhas. Os restantes 57% das vitimas foram mortas com armas brancas ou armas improvisadas, particularmente na região do Rift Valley onde somente uma minoria dos corpos analisados mostrou ferimentos de armas de fogo.

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Quénia: momento preocupante e oposição anula manifestação

Tocará hoje ao presidente em exercício da União Africana (UA), o chefe de estado da Tanzania Jakaya Kikwete, tentar aplanar as divergências surgidas nas últimas 48 horas entre o governo e a oposição, as quais levaram à suspensão das negociações a fim de encontrar uma solução para a crise política e social que desde Dezembro último tem levado o país a graves problemas. A agenda dos trabalhos prevê para hoje encontros separados entre Kikwete e os líderes em disputa: o presidente Mwai Kibaki e o líder da oposição Raila Odinga. A estes encontros poderia também unir-se o chefe das negociações da UA, Kofi Annan, que ontem tinha suspendido os trabalhos depois de divergências sobre as responsabilidades a atribuir à emergente figura de primeiro ministro para o país. Por um lado, ontem, a frente governamental surpreendeu também os mediadores, recuando de uma posição precedente aceite, pedindo que a nomeação do primeiro ministro fosse legislada por via parlamentar (ficando assim o cargo de PM sujeito ao do presidente). Por outro lado a oposição reafirma que o cargo político deve ser fruto de uma alteração Constitucional.
"A suspensão de ontem das negociações marca mais um momento negro na história do país" escreve-se no Editorial de hoje do jornal queniano "Daily Nation" que traz o título "O sangue dos inocentes estará nas vossas mãos." Neste editorial é expressada uma preocupação profunda pelo estado das negociações pedindo às partes em disputa para que reunam de novo todos os esforços conjuntos, pondo de parte a ambição e o personalismo. "Os negociadores - prossegue o editorial - não apontaram o dedo contra ninguém, mas é claro para todos os quenianos que o país está na orla de um precipicio." Um pedido ainda aos próprios dirigentes quenianos que "assumam plenamente todas as suas responsabilidades nesta situação." Este mesmo pedido foi também feito pelo comissário europeu para o desenvolvimento Louis Michel que disse ter uma "profunda inquietação" pelo estado das coisas nas últimas horas. As pressões, internas e internacionais, por agora sortiram um primeiro efeito, convencendo o lider da oposição Raila Odinga a anular "até novas ordens" as manifestações de protesto públicas ameaçadas nos últimos dias e que a partir de amanhã deveriam ter lugar nas vias públicas sob a liderança do Movimento Democrático Laranja (ODM), levantando de novo a tensão. O anúncio feito por Odinga foi tornado público no final do encontro à porta fechada tido com Kikwete.

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Quénia: conversações interrompidas

Kofi Annan decidiu suspender o processo das conversações no Quénia.

Passado mais de um mês desde que começaram os esforços de mediação entre o governo queniano/Partido de Unidade Nacional (PNU) e a oposição do Movimento Democrático Laranja (ODM), há sinais de frustração considerável.
O ex-secretário das Nações Unidas disse que este não era "uma medida desesperada" mas um passo necessário depois de não ter havido progresso nas negociações nas passadas 48 horas.
Conversações entre os dois paineis, disse, revelaram-se muito dificeis e ele mesmo levaria agora os assuntos em discussão aos dois líderes principais, Presidente Mwai Kibaki e Raila Odinga.
Até agora, os dois grupos de quatro pessoas do painel têm vindo a negociar deferindo as decisões para os seus líderes, mas o processo tornou-se num plano de indecisões e de prevaricações.
"Agora, disse Kofi Annan, é tempo de os líderes serem envolvidos no processo."
Ele decidiu falar directamente com o presidente e o seu oponente na esperança que o processo "possa ser levado com maior rapidez a uma solução."
Este não é o fim do processo mas é um desenvolvimento muito sério que não auspicia bons resultados.

Fonte: BBC

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Quénia: perguntas e respostas fundamentais

Cerca de 1500 pessoas terão sido mortas nos confrontos ocorridos no Quénia, depois das eleições presidenciais. Aqui estão algumas perguntas e respostas que podem ajudar a entender o estado a que chegou este país, anteriormente, um dos mais estáveis da região.

A Comissão de eleições declarou o presidente Mwai Kibaki o vencedor. Mas os observadores da União Europeia afirmaram que as eleições foram fraudulentas. A afluência às urnas numa das regiões foi registada mesmo a 115%.

O que está por detrás da violência?
O "gatilho" imediato que causou a violência foram os resultados eleitorais - apoiantes de Raila Odinga, o principal oponente ao presidente Kibaki e líder da oposição, acreditam que o seu líder foi roubado nos resultados eleitorais.
Mas a tensão étnica, que tem marcado a política queniana desde a independência em 1963, é largamente aceite como a causa real que está por detrás da violência.
Com o compadrio e a corrupção ainda muito comum no país, muitos quenianos acreditam que se um dos seus familiares (ou da sua tribo) está no poder, poderão beneficiar disso directamente, por exemplo através de um familiar próximo conseguir um lugar na função pública.
As actuais tensões podem ser escrutinadas a partir dos anos 90, quando o então presidente Daniel Arap Moi foi forçado a introduzir o sistema multipartidário no país.
Membros do grupo étnico kalenjin desse então presidente Arap Moi - o grupo dominante na região da provincia do Rift Valley - sentiram-se ameaçados por esta situação.
Desde então os kalenjin têm lutado por um sistema federal com maior autonomia económica e apoiaram Raila Odinga desde essa altura até à sua candidatura às eleições de Dezembro 2007.
Raila Odinga, da comunidade Luo, tem um vasto apoio de base entre vários grupos étnicos e considerou-se ele mesmo o grande desafiador do sistema político queniano. Durante a sua campanha eleitoral prometeu actuar e agir nas extremas diferenças sociais e de nível de vida entre os vários grupos étnicos do Quénia.
O presidente Kibaki, que em 2002 acabou com mais de duas décadas de reinado do partido de Arap Moi, Kanu, no meio de muito aclamadas e correctas eleições, prometeu desenvolvimento económico. O conceito de um sistema federal provoca respostas emocionais nos seus apoiantes, acreditando que é um meio para apoiar violência étnica.
No seus 5 anos de governo a economia cresceu de forma firme e estável, mas a maioria dos quenianos não sentiram ainda os efeitos desse crescimento económico.
Nos superpopulados bairros de lata de Nairobi, os residentes têm que lidar com gangs violentos, a inexistência de saneamento básico (as pessoas têm de usar sacos de plástico como casas de banho e atiram-nos depois pela janela fora) e muitas falhas de electricidade.
Kibaki depende fortemente dos votos dos Kikuyus, o grupo étnico mais numeroso do país, tendo ainda o suporte de outras comunidades mais pequenas.

Quem está envolvido na violência?
Muitas pessoas leais a Odinga, de vários grupos étnicos, atacaram os Kikuyus que vêem como apoiantes de Kibaki.
Em Kisumu no oeste, a terra mãe de Odinga do Movimento Democrático Laranja (ODM), e em Mombasa na costa do Índico, a violência tem sido espontânea envolvendo banalização do comércio e casas familiares.
Mas na Provincia do Rift Valley - que testemunhou a maior parte do derramamento de sangue, incluindo 30 pessoas queimadas numa igreja onde tinham procurado refúgio - tem-se visto um elemento mais orquestrado de violência.
Testemunhas locais em Molo afirmam ter visto camiões carregados de gangs da etnia Kalenjin, armados com arcos e flechas e alguns com armas, a serem levados a áreas de Kikuyus para incendiar as casas. A maioria dos quenianos têm ficado chocados com a violência e preferiam o diálogo, uma vez que os comicios políticos são notoriamente convocados para violência.

O que estão então a fazer os políticos?
O ex-secretário geral das Nações Unidas Kofi Annan tem estado a tentar conseguir um acordo político há mais de um mês, baseado numa ideia de partilha de poder. Ambos os lados no conflito concordaram na criação do cargo de primeiro ministro, que seria ocupado por Odinga.
Porém, estão profundamente divididos no que respeita a que poderes este novo cargo deveria ser investido.
Os da oposição (ODM) querem o primeiro ministro a ter mais poderes executivos, com o presidente a ser reduzido a uma figura mais ceremonial.
Os apoiantes de Kibaki querem precisamente o oposto.
Entretanto, os quenianos e a comunidade internacional estão a esgotar a sua paciência e querem que os políticos voltem a governar o país em vez de se degladearem.

Porque é que o Quénia é importante para o resto do mundo?
Parece que o mundo foi apanhado mais ou menos de surpresa quando a crise estalou no Quénia, país que tem sido sempre tido como um oasis na região no que diz respeito à estabilidade com a actividade turistica num crescimento.
Mas o Quénia é estratégicamente importante: o Quénia acolheu muitas cimeiras e encontros para a paz para países vizinhos e muitas organizações humanitárias têm lá as suas bases operacionais.
Pressão internacional foi crucial para conseguir que o antigo presidente Moi fosse deposto antes das últimas eleições.
E países do ocidente ameaçaram sanções contra aqueles que impeçam o estabelecimento de um acordo de paz.

Pode o presidente Kibaki apoiar-se na lealdade das forças de segurança?
A policia - que conseguiu controlar e bloquear os ânimos desde que a violência começou - é uma mistura de grupos étnicos e por isso, como força, não é credível que mostre favoritismo político.
O exército e a Unidade Geral de Serviços Paramilitares (PGSU - uma espécie de polícia de intervenção), porém, têm um número significativo de soldados Kalenjin - desde os dias de Moi no poder - e os Kalenjins têm-se posto do lado da oposição (ODM) na corrente crise.
Analistas dizem que isto deixa o exército e a PGSU com lealdades divididas. Mas o chefe geral das polícias, General Jeremiah Kianga, é visto como alguém em quem se pode confiar e tem-se distanciado da política.

Distribuição dos grupos étnicos

Como votaram as províncias

Industria do Turismo

Fonte: BBC

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terça-feira, fevereiro 26

Quénia: e se o acordo falhar?

Um advogado conceituado no activo em Nairobi, Sr. Maina, diz não ser dificil adivinhar o que acontecerá ao Quénia caso o acordo entre as partes em disputa política pelo poder no país não for alcançado através das negociações em curso lideradas por Kofi Annan. Eis as razões da necessidade de um acordo político, da sua importância vital, estratégica e de manutenção da paz para o país e para toda esta região da África:

Caso as negociações falhem e não se chegue a um acordo:
1. A violência no Rift Valley e Nyanza recomeçaram e intensificar-se-ão (locais dos maiores distúrbios de há semanas atrás e região das tribos que suportam o lider da oposição Raila Odinga);
2. O Uganda, Sul Sudão e Ruanda ficarão bloqueados quanto a importações e ajudas humanitárias vindas pelo porto de Mombaza e levadas a estes países por meio das estradas do Quénia que deixarão de ser seguras para o transporte dos bens alimentares e humanitários;
3. Os transportes, que nos anos recentes têm tido uma importância enorme no crescimento do PIB, deixarão de poder circular e operar;
4. A actual falta de stocks de alimentos em partes do país agravar-se-á e o preço dos alimentos nas cidades subirá a pique.
5. Esta região da África cairá num ambiente destabilizado e a corrente crise económica será mais grave ainda.
6. Mais preocupante ainda, tal como o Grupo Internacional de Crise (IGC) avisou, milicias populares estão a reunir armamento. E esta é a situação: existem entre 1,9 a 3,2 milhões de armas ligeiras em mãos de particulares no Sul do Sudão e provavelmente o dobro deste número na Somalia. As fronteiras quenianas com ambos os países são inócuas e nada seguras, o que permitirá um aumento de fácil acesso a estas armas.

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Quénia: agora é com os líderes

O Ex-secretário geral das Nações Unidas Kofi Annan disse segunda feira ao final do dia que os partidos rivais na actual disputa política parecem não conseguir resolver as suas diferenças, mesmo depois de semanas de negociações entre as duas partes.

Annan pediu em tom quase dramático ao presidente Mwai Kibaki e Raila Odinga, lider da oposição, para alcançar um acordo depois de os ter encontrado separadamente. Não estão de acordo nos poderes atribuídos ao proposto novo cargo de primeiro ministro para o país.
Esta disputa de poder depois da reeleição de Kibaki em Dezembro ultimo lançou o país em várias semanas de violência, deixando cerca de 1500 mortos e 300 mil desalojados e deslocados.
Annan tem estado no Quénia desde há mais de dois meses tentando resolver a crise - o período mais longo que alguma vez passou na resolução de um conflito. O chefe da mediação, Kofi Annan, terá depois dito que a equipa de mediadores "terminou o seu trabalho - peço agora os líderes dos partidos para fazer o seu." O repórter da BBC em Nairobi diz que se nota em Annan claramente sinais de frustração pela falta de progessos nas negociações.
Um dos membros da equipa de mediação terá mesmo dito que o problema é da parte do governo, o qual não está desejando confrontar-se com a realidade de partilha de poder, mesmo tendo já ambas as partes acordado na criação do posto de primeiro ministro. As divisões serão ainda latentes na partilha das pastas ministeriais (ministérios) bem como na possibilidade de novas eleições caso a coligação falhe.
Annan terá ainda afirmado que ele se sente como um prisioneiro da paz - não conseguindo chegar a um acordo mas também não desejando deixar o Quénia nesta situação.

Fonte: BBC (inglês) e MISNA (italiano)

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segunda-feira, fevereiro 25

Quénia: negociações em impasse

Segundo a BBC, os mediadores de ambas as partes, que procuram uma solução política para o país depois das eleições de 27 de Dezembro último, não conseguem chegar a um acordo final. A notícia diz que Annan é forçado a intervir.
Kofi Annan pede agora aos próprios Mwai Kibaki e Raila Odinga se envolvam no processo numa tentativa de salvar o processo.
Os negociadores de ambos os líderes políticos não conseguem por-se de acordo nos poderes que seriam dados ao proposto cargo de um novo primeiro ministro, como solução para a situação.
Entretanto a polícia aumentou a estimativa de pessoas mortas no período de violência pós eleitoral para pelo menos 1500. Cerca de outras 300 mil estão deslocadas por causa da violência gerada nas semanas depois do dia 27 de Dezembro.
A oposição (ODM de Raila Odinga) ameaçou, no final da semana passada, organizar protestos em massa se uma solução política não for alcançada esta semana, ao mesmo tempo que um grupo de advogados diz querer ver a resolução do problema no mesmo período de tempo.
"Isolámos um certo número de pontos que requerem a consulta do presidente com os seus membros principais e deputados," disse Mutula Kilonzo, o representante do governo nas mediações.
Ambos os partidos terão abandonado o hotel onde se reúne a comissão com Kofi Annan depois de novas propostas terem sido levantadas.
"Em muitas questões nós somos intransigentes, não concordamos, assim que estes assuntos foram reencaminhados para os nossos líderes na esperança de que eles tenham mais experiência nestes assuntos e possam chegar melhor a um acordo", disse William Ruto, do partido da oposição ODM e também negociador neste processo.

Fonte: BBC

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domingo, fevereiro 24

Quénia: cartoon explicito da actual situação

(clique sobre o cartoon para aumentar a imagem)

Neste cartoon, publicado no jornal queniano "Daily Nation" deste domingo, é bem explícita a situação destes dias nas negociações para alcançar um acordo para o impasse politico do país.
Diferença nos termos que parecem semelhantes, mas que escondem sentidos bem distintos dos interesses particulares de cada uma das partes.

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quinta-feira, fevereiro 21

Quénia: Refugiados quenianos no Uganda

Nesta reportagem da BBC apresentam-se as condições de vida e as preocupações de vários milhares de refugiados do Quénia no Uganda. Milhares terão cruzado a fronteira para o país vizinho depois da violência pós eleitoral, não sabendo agora quando será que poderão regressar ao seu país.

Ver aqui a reportagem da BBC (em inglês).

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Quénia: novas ameaças de violência

O Grupo Internacional de Crise (ICG), que tem vindo a acompanhar a actual crise no Quénia, argumenta que mais violência poderá estalar no país caso uma solução politica para a crise no país não for alcançada nas próximas horas.
No seu relatório sobre a situação, o ICG diz que grupos armados que suportam ambas as partes envolvidas no conflito estarão a organizar-se para novos ataques.
O relatório apela também para reformas constitucionais e eleitorais dentro da legalidade, aconselhando ainda que a ajuda internacional ao país por países doadores deve ficar condicionada ao sucesso pacífico das actuais negociações em curso.
Numa entrevista à BBC, Donald Steinberg do ICG disse que aparentemente as negociações para estabelecer um governo de transição estão a decorrer bastante bem.
Porém, adianta que "é muito importante que as negociações lidem com aspectos mais profundos do que simplesmente o aspecto político."
"Estamos preocupados que os esforços para alcançar um acordo a curto prazo seja alcançado à custa de mudanças fundamentais a longo prazo que necessitam de ser efectuadas. Se aquilo que se conseguir for somente um acordo de partilha de poder e mudanças transitórias, é incerto se os movimentos que provocaram a violência pós eleitoral aceitarão essas decisões a implementar a curto prazo, podendo a violência recomeçar de novo."
Na raíz da violência, disse, estariam as políticas tribais do "divide para governar" levadas a cabo pelo governante anterior ao actual, Daniel Arap Moi, e que não foram sujeito de acção por parte de Mwai Kibaki no seu período governativo entre 2002 e 2008.
O relatório chama ainda a atenção para o facto de o Quénia ser um ponto estratégico de estabilidade a todos os níveis (politico, social, humanitário) para toda a região da África do Leste. Recorde-se que por ali passam todas as ajudas humnaitárias para o Uganda, Sul do Sudão, Burundi e Ruanda.

Veja aqui a reportagem video da BBC (em inglês) "Ameaça de mais protestos quenianos"

Veja aqui a reportagem video da BBC (em inglês) "Risco de mais violência no Quénia"

Veja aqui a reportagem video da BBC (em inglês) "A crise queniana afecta o Uganda"

Fonte: BBC


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quarta-feira, fevereiro 20

Quénia: Nobel da Paz ameaçada de morte

Wangari Maathai, prémio nobel da paz, afirmou a jornalistas quenianos que recebeu ameaças de morte por parte do grupo-seita armada ilegal "Mungiki" através de mensagem de texto.
Maathai é uma antiga ministra do mesmo grupo étnico desta seita armada, os Kikuyu, tal como o presidente Mwai Kibaki, mas ela tem pedido mais elasticidade nas negociações dos líderes de ambas as partes envolvidas na crise, desde que a violência tomou conta do país a seguir às últimas eleições.
O texto diria "Por causa de constantemente se opor ao governo, Professora Wangari Maathai, decidimos por a sua cabeça a prémio muito brevemente. Chunga maisha yako (toma cuidado com a tua vida)."

Ainda violência
Entretanto, chegam outras notícias de confrontos esporádicos registando tensões esta manhã no bairro de lata de Mathare em Nairobi, onde a polícia levou a cabo ontem à noite uma operação de retirada de cerca de 80 famílias de etnia luo que se recusavam a pagar as suas rendas a um proprietário kikuyu. "Prendemos cerca de 80 familias - disse o comandante da polícia local, Jasper Ombati - porque não podemos permitir que qualquer um se aproveite do clima de confusão pós-eleitoral". Como reacção às prissões destes luo, alguns habitantes incendiaram um minibus e construiram barricadas.

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Quénia: negociações continuam "dificeis"

Num comunicado difundido ontem à noite pelo Presidente do Quénia, Mwai Kibaki diz-se "pronto a trabalhar e a partilhar a responsabilidade do governo com os membros de ODM (oposição) de Raila Odinga." Porém, faz notar que "qualquer solução política a ser adoptada deverá sempre respeitar a Constituição em vigor, sendo que esta não prevê o cargo de um primeiro ministro «forte»". Essa tinha sido a proposta avançada anteontem pelo mesmo Raila Odinga, lider da oposição e aspirante a este cargo governamental. Mwai Kibaki diz ainda que "a Carta fundamental deve servir de guia enquanto os negociadores discutem as reformas judiciais e institucionais necessárias para que o país avance."
Entretanto, segundo a BBC, o lider da oposição terá feito um aviso de relançar os protestos populares em massa se dentro de uma semana as negociações permanecerem num impasse. Isto poderia voltar a lançar a instabilidade e tensão social num país que vive hoje em relativa calma em todo o território. Odinga exige que o parlamento seja convocado para aprovar mudanças constitucionais que permitam um acordo de partilha de poder, facto que o actual presidente rejeita, segundo a nota à imprensa do mesmo de ontem à noite.
Recorde-se que Kofi Annan afirmou no final da semana passada que ambas as partes tinham concordado no principio de formar um governo de grande coligação, mas a forma de concretizar esse acordo é o que agora divide ambas as partes.
Fontes: www.misna.org e BBC.

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terça-feira, fevereiro 19

Quénia: recomeço das negociações e fim do recolher obrigatório em Nakuru

Recomeçaram esta manhã em Nairobi, à porta fechada, as reuniões de mediação entre os representantes da maioria governamental e oposição. As mesmas tinham sido interrompidas durante o fim de semana. O objectivo dos encontros é encontrar uma solução para a crise pós-eleitoral que paralisa o país e que, desde o dia 27 de Dezembro último, causou, segundo estimativas, cerca de 1000 mortos e 600 mil refugiados e deslocados. O partido da oposição (ODM) de Raila Odinga disse estar "satisfeito" com o andamento das negociações, dizendo, no entanto, que "o processo de estabilização do país não estará completo até que se encontre uma solução à altura."
Entretanto, das regiões mais afectadas pela violência nas passadas semanas, chegam notícias de confrontos esporádicos: duas pessoas morreram ontem à noite no decorrer de confrontos entre grupos de jovens nos arredores da localidade de Molo (Oeste). Num ataque, ocurrido em Sachangwani, outras quatro pessoas terão ficado feridas e cinco casas foram incendiadas.
Por outro lado, a calma parece ter regressado a Nakuru, quarta cidade maior do país e palco de violência entre habitantes Luo e Kikuyu, onde o recolher obrigatório imposto desde há quase duas semanas foi levantado.

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domingo, fevereiro 17

Quénia: Arcebispo Njue - "Diálogo unica via possível para recuperar a paz!"

"É um passo na direcção correcta ao mesmo tempo uma demonstração de que a via do diálogo é a única possível de percorrer para recuperar a paz ao Quénia". Assim comentou o Arcebispo de Nairobi e presidente da Comissão Episcopal do Quénia John Njue, o anúncio por parte de Kofi Annan da possibilidade de uma coligação governamental no país.
O cardeal é consciente que ainda há tempo para conseguir um acordo definitivo e exorta os políticos a percorrer o longo caminho traçado: "Espero que os nossos dois líderes continuem no caminho do diálogo pondo em primeiro lugar o bem comum e as realidades reais do povo do Quénia. A via do diálogo que está aberta deve assim continuar", disse.
Hoje, em todas as igrejas católicas de Nairobi foi lida uma carta do cardeal. "Na minha mensagem indico precisamente a urgência e necessidade de nos aceitarmos uns aos outros, segundo a via do amor para reencontrar a paz através da reconciliação. Peço ainda a todos que ajudem todas as pessoas em necessidade por causa da violência destas semanas", explicou o Cardeal Njue.

Fonte: MISNA

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Quénia: ponto da situação a esta data

Os dois partidos rivais do Quénia em disputa pelo resultado das eleições de 27 de Dezembro 2007 acordaram em estabelecer um painel independente para rever o processo eleitoral das eleições, declarou Kofi Annan na passada sexta feira, numa conferência de imprensa em Nairobi, a meio das negociações levadas a cabo durante esta última semana num local desconhecido pela comissão de mediadores que ele mesmo chefia.


O ex-secretário geral da ONU referiu, no entanto, que o possível acordo de partilha de poder não foi ainda finalizado.
A oposição acusa o Presidente Mwai Kibaki de ter "roubado" o resultado eleitoral. A disputa levou a protestos, nos quais pelo menos cerca de 1000 pessoas foram mortas e 600 mil tiveram que refugiar-se e deixar as suas casas.


"Muito perto"
O painel independente, incluindo peritoas quenianos e não quenianos, irá investigar "todos os aspectos" das eleições disputadas, disse Annan (ver aqui reportagem da Nation TV do Quénia - inglês e da BBC).
A comissão deverá começar o trabalho no dia 15 de Março e deverá submeter um relatório dentro de 3 a 6 meses, acrescentou.
"Estamos lá, estamos muito perto, proseguimos os trabalhos com firmeza", disse Annan, depois de dois dias de conversações secretas para acabar com a crise.
Kofi Annan deverá encontrar-se com Kibaki e o lider da oposição do partido ODM, Raila Odinga, na próxima segunda feira.
A correspondente da BBC Karen Allen em Nairobi diz que as equipas de mediadores de ambas as partes terão acordado num princípio de partilha de poder mas os detalhes da mesma terão ainda que ser trabalhados.
A comunidade internacional está a pressionar para um acordo que veria Odinga formar uma coligação com o Presidente Kibaki.
Na quinta feira, o negociador por parte do governo Mutula Kilonzo disse que as duas partes teriam acordado em rever uma nova constituição dentro de 1 ano.
Isto poderá abrir caminho para a criação do cargo de primeiro ministro, que Odinga ocuparia; porém a equipa da oposição diz que o assunto de partilha de poder terá de ser resolvido primeiro.


Ponham fim à crise
O correspondente da BBC em Nairobi diz que outros detalhes a ser ainda trabalhados são a divisão das pastas ministeriais no governo de grande coligação.
Durante as conversações, o ministro dos negócios estrangeiros alemão, Gernot Erler, falou com as duas equipas sobre a forma como a grande coligação governamental poderia trabalhar durante o período de partilha de poder. Ele falava a partir da experiência que a própria Alemanha teve de um governo do género há umas décadas atrás.
Espera-se que as equipas de mediadores recebam mais indicações dos seus líderes durante este fim de semana antes de voltarem a reunir-se para continuar as negociações na próxima terça-feira.
A secretária de estado norte-americana Condoleezza Rice deverá chegar ao Quénia já amanhã, segunda feira, para precionar ambas as partes a alcanzar um acordo governamental (ver aqui reportagem das declarações de George W. Bush sobre esta visita - da BBC em inglês)
Anann expressou optimismo ao esperar que a solução política que acabe com a crise será alcançada dentro de 3 dias. Disse ainda que será muito perigoso querer levar o país a eleições novamente num período de pelo menos 1 ano.


Polícia acusada
Diplomatas estrangeiros avisaram os representantes de ambas as partes de severas consequências caso não honrem o processo de negociação e falhem a solução para o problema.
Mas a ministra da justiça queniana, Martha Karua, que lidera a equipa do governo nas negociações, pediu aos diplomatas estrangeiros para acabarem com as suas ameaças uma vez que o Quénia percorre o seu próprio caminho.
"Gostaria de os recordar que não somos uma colónia e devem permanecer na convenção diplomática de não interferir com estados suberanos", disse Karua aos repórteres logo que chegaram a Nairobi das negociações desta semana (ver aqui declarações de Martha Karua - Nation TV - Quénia em inglês).
Entretanto, activistas dos direitos humanos acusaram a policia de "dormir no seu trabalho" por alegadamente falharem na investigação de suspeitas de comportamentos criminosos por parte da Comissão Eleitoral Queniana (ECK).
Apresentaram uma lista ao procurador geral de 22 nomes da comissão eleitoral e outro "staff", que, segundo os activistas, terão estado envolvidos na falsificação dos resultados eleitorais, subvertendo a lei de direito e falhando as suas responsabilidades durante as eleições de 27 de Dezembro (ver reportagem da Nation TV, Quénia - em inglês)
Observadores eleitorais internacionais dizem haver inumeras discrepâncias na forma como os votos foram contados e depois anunciados.
Grupos de direitos humanos pediram ao governador geral para ordenar a investigação e avisaram que se os seus pedidos são ignorados optarão por um processo judicial.
Fonte: BBC

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Quénia: breves da actual situação

Comissão de Direitos Humanos do Quénia processa Comissão Eleitoral

A Comissão de Direitos Humanos do Quénia processou a Comissão Eleitoral do país (ECK), alegando que em última instância, a última é a responsável pela violência que se seguiu à declaração da vitória de Mwai Kibaki nas eleições de 27 de Dezembro 2007. A acusação é de a ECK não ter levado a cabo o trabalho eleitoral que deveria ter feito, nomeadamente de ter supostamente colaborado na tomada de posse do actual presidente de uma forma "apressada e muito duvidosa".

Ver aqui reportagem desta notícia da Nation TV (Quénia) - inglês.

Antiga Primeira Ministra do Burundi: o Quénia ultrapassará este momento
A antiga primeira ministra do Burundi, Sylvie Kinigi, que governou o país na era pós-genocídio do Ruanda e Burundi, esteve em Nairobi para partilhar os seus esforços na dificil reconciliação do país que se seguiu ao genocídio.
Na sua intervenção, apontou caminhos e experiências de sucesso levadas a cabo no seu país que culminaram com uma pacificação do país. Mostrou também essa certeza para o Quénia.

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Quénia: deslocados recolocados

Durante a última semana, os deslocados internos no Quénia, vitimas da recente violência no país, começaram a deixar os campos de refugiados para serem recolocados por meios disponibilizados pelo governo na suas áreas ancestrais.
A ONU calculou que a recente violência no país terá gerado mais de 600 mil refugiados, a maioria internos, ao passo que outros terão mesmo cruzado a fronteira e fugido para países vizinhos, como Uganda e Tanzânia.

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Quénia: mais de 200 pessoas sob investigação

A Policia queniana, numa conferência de imprensa na passada 5ª feira, dia 14 de Fevereiro, disse estar a investigar mais de 200 pessoas proeminentes da sociedade ligadas e acusadas de violência no último mês e meio.
Mostrou à imprensa fotos de pessoas a cometer actos de violência, pedindo ajuda aos media, na identificação das mesmas.
Ao todo terão sido presas durantes estas ultimas semanas de violência, mais de 600 pessoas ligadas à incitação da violência no país.

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Quénia: Igreja diz "mea culpa"

Na passada quarta feira, dia 13 de Fevereiro, o Conselho Nacional das Igrejas no Quénia (NCCK), reconheceu que as várias igrejas não estiveram à altura de responder como deveriam à crise actual no Quénia.
Tal como referido no artido aqui publicado neste blogue no dia 6 de Fevereiro escrito pelo actual provincial dos Missionários Combonianos no Quénia, as igrejas foram também demasiado reféns e partidárias dos factores étnicos e políticos que devastaram o país nos ultimos quase 2 meses.
Isto mesmo foi reconhecido num encontro levado a cabo pelo NCCK durante a última semana.
Neste encontro, porém, foram salientados alguns passos que ajudarão o país a sair da crise: reformas constitucionais mínimas para restabelecer a paz no país, chamando a atenção que as igrejas no Quénia não deixarão que os políticos por si só sejam os únicos a buscar estas reformas, exigindo que as mesmas sejam participadas por todos os sectores da sociedade. Exigiu ainda que os responsáveis pela violência que devastou o país sejam trazidos diante da justiça e julgados segundo os seus actos, incluindo políticos e seus apoiantes.

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quarta-feira, fevereiro 13

Quénia depois da violência

A situação nos vários locais do Quénia depois da violência

Depois de seis semanas das eleições, a violência étnica e política no Quénia está diminuta. Eis aqui alguns apontamentos curtos da situação actual nalguns dos lugares que testemunharam mais violência:

Rift Valley, Oeste
Calma relativa está a voltar à zona de maior simpatia pela oposição, particularmente Eldoret, depois de semanas de violêntos e sangrentos confrontos.
As estatísticas governamentais mostram que dos cerca de 1000 mortos na violência em todo o país, quase metade foram no Rift Valley e nas provincias do oeste.
O pior incidente aconteceu quando jovens armados puseram fogo a uma igreja nos subúrbios de Eldoret, matando pelo menos 50 pessoas, na sua maioria mulheres e crianças, que tinham procurado refúgio na igreja.
Cerca de 150 mil pessoas, na sua maioria membros da comunidade Kikuyu, a mesma do Presidente Mwai Kibaki, deixaram estas duas provincias e dirigiram-se para as suas terras ancestras na provincia Central e Nairobi.
Cerca de 20 mil pessoas, a maior parte da comunidade Luo, a mesma do lider da oposição Raila Odinga, deslocaram-se na direcção oposta.
O comércio na maioria das cidades, como Kakuru e Eldoret, reabriram. Bancos, lojas, hoteis e comerciantes de ocasião estão a trabalhar sem medo.
Todos os bloqueios de estrada, onde os jovens armados atacavam Kikuyus que viajavam nos transportes públicos matando-os à catanada, foram removidos e a policia armada tem vigiado o local.
Mas a vida nos campos para as vitimas da violência é dura por causa das chuvas que agora encheram os campos de água.
Muitas pessoas, especialmente os idosos e crianças, correm o risco de contrair doenças. Há também uma necessidade urgente de fornecer comida e serviços médicos.
Os transportes públicos estão de novo a operar e os minibus taxi estão de novo em circulação, uma vez que já não necessitam de qualquer escolta policial para circular.
Mas uma forte presença policial continua bem visivel em Eldoret e cidades circundantes.
Camiões cheios de paramilitares da Unidade de Serviço Geral (uma espécie de policia de intervenção) são agora comuns nas ruas.
Residentes jão não têm receio de voltar aos seus lares, locais que antes eram reconhecidos como inseguros.
O chefe da policia em Eldoret Muinde Kioko disse à BBC que os oficiais da segurança permanecerão na cidade enquanto as sessões de mediação estiverem a ser levadas a cabo por Kofi Annan em Nairobi.
"Nós nos queremos iludir com nada, mesmo com a calma que agora se sente em Eldoret - as coisas podem mudar muito rapidamente e temos que estar preparados a todo o momento", disse.

Kisumu
Kisumu, que esteve a ferro e fogo durante o período pós eleitoral com pessoas a roubar e a queimar lojas, está agora calmo.
Alguns negociantes começaram mesmo a reconstruir os seus locais de comércio, pintando-os, esperando que depressa a vida volte ao normal na capital da provincia de Nyanza.
Mas a economia na cidade das margens do lago Vitória foi severamente afectada.
A pesca, que é na região a actividade económica mais importante, colapsou uma vez que a maioria dos compradores e operadores de fábricas de peixe deixaram a região devido aos confrontos étnicos a seguir às eleições ao dia 27 de Dezembro passado.
Um condutor de "matatu" (minibus - transporte público) chamado Oiro diz: "Enquanto que no passado eu fazia cerca de 5000 xelins por dia (cerca de 50 euros), hoje tenho um dia bom quando faço cerca de 1000 xelins (10 euros). Eu espero que Kofi Annan force o presidente Kibaki e Raila Odinga a fazer as pazes para que possamos continuar as nossas vidas."
A Universidade de Maseno, que fica a cerca de 50 km da cidade e deve ter mais de 10 mil estudantes, não pode abrir porque o funcionamento da mesma não pode assegurar a segurança dos estudantes e dos trabalhadores.
Algumas das casas de residentes estudantes foram destruídas e ainda estão à espera de serem reparadas.

Bairros de lata de Nairobi
A tensão continua alta no bairro de lata de Kibera e Mathare (Kariobangui), que testemunharam violência extrema no período pos eleitoral.
As cenas de violência que forçaram milhares de pessoas a fugir acabaram e algumas familias começaram a retornar para as suas casas no bairro de lata mas fazem-no com um cuidado extremo.
Algumas partes dos bairros de lata foram divididos por zonas étnicas, com muitas pessoas a escolher viverem em áreas dominadas por pessoas da sua comunidade étnica.
Em ambos os bairros de lata, alguns dos habitantes encontraram as suas casas ocupadas por estranhos que se recusam a sair, contribuindo para uma contínua tensão.
Em Kibera, onde muitas lojas e casas do bairro foram queimadas durante a violência, a policia e os oficiais do governo realizaram um encontro com os residentes no fim de semana passado numa tentativa de resolver a disputa de propriedades das casas.
O porta-voz da policia Eric Kiraithe disse que a maioria dos bairros de lata permanecem calmos desde que começaram as reuniões de mediação lideradas por Kofi Annan.
No fim de semana, o chefe da policia Hussein Ali levantou a proibição de manifestações publicas em todo o país, justificando o retorno à normalidade.
Os residentes estão agora a por as suas esperanças na habilidade de mediação de Kofi Annan para encontrar uma solução politica.

Mombasa
O sector do turismo, instalado ao longo da costa do Oceano Indico, que o ano passado contribuiu 15% para as receitas nacionais, foi devastado pela crise pos eleitoral.
A maioria dos turistas cancelaram as suas viagens para ver os muldialmente famosos safari resorts e hoteis de praia, com uns poucos hoteis a ter a sorte de registar 30 a 40% de ocupação.
Só na provincia da Costeira existem mais de 120 hoteis de classe mundial, 20 dos quais fecharam, com cerca de 20 mil empregados mandados para casa.
Rufus Mwachiru, presidente da Associação de Operadores Turisticos do Quénia, diz que cerca de 20 mil dos seus membros ficaram desempregados.
Ong'ong'a Achieng', director do Painel de Turismo do Quénia, diz que a industria, que o ano passado rendeu ao país o recorde de 65 mil milhões de xelins espera agora perder cerca de 5,5 mil milhões de xelins por mês durante o primeiro trimestre deste ano.
Ele avisa que a situação irá piorar e a economia será severamente afectada se a solução para o actual impasse político não seja rapidamente encontrada.
O porto de Mombasa sofreu uma nunca vista sobrelotação do contentores no porto. Isto foi provocado pela indisponibilidade dos camiões, uma vez que os transportadores não queriam viajar país acima com os confrontos a decorrer em Nairobi, Rift Valley e região Oeste, a estrada que atravessa todas estas regiões em direcção ao Uganda. A meio de Janeiro, o porto que tem a capacidade para 14300 contentores, estava sobrelotado com 18472. Nessa altura, 8 barcos flutuavam no mar uma vez que não havia mais espaço para atracar. Alguns navios cansaram-se de esperar e mudaram o curso da rota para Dar es Salaam na vizinha Tanzânia.
Os caminhos de ferro estão operacionais de novo, depois de partes da linha ter sido arrancada e destruída por manifestantes.
Alguns dos contentores estão já a ser movidos mas a "passo de caracol". Esta crise no porto de Mombasa afectou também o Uganda, Ruanda, o este da RD Congo e o Sul do Sudão.

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Quénia: Annan põe parlamento ao corrente das negociações

Uma "grande colisão governamental, uma comissão independente para comprovar alegados abusos e tumultos nas eleições de 27 de Dezembro 1007, reformas eleitorais, reformas constitucionais, reformas instuticionais do sistema judicial e uma solução política para ser revelada nos próximos dias: estas são as opções apresentadas pelos mediadores da União Africana aos protagonistas da actual crise politica e social em curso há mais de um mês no Quénia. Num discurso desta manhã ao parlamento, reunido em sessão planária, o chefe da mediação Kofi Annan pediu para o apoio de todos os deputados para as negociações em curso, reiterando que "não nos podemos dar ao luxo de falhar." Um apelo também feito por Graça Machel, esposa de Nelson Mandela e membro da equipa de mediação, bem como o presidente do parlamento queniano Kenneth Merende. Baseado nos rumores divulgados pela imprensa, Annan terá já completado e organizado a comissão independente de investigação que será composta por especialistas quenianos e internacionais.
No seu discurso ao Parlamento - que depois continuou à porta fechada - Annan disse que o "Quénia está dividido assim como o Parlamento e por isso uma grande colisão governamental deverá trazer todos os partidos juntos." O ex secretario geral da ONU também confirmou que as negociações entre os representantes do Presidente Mwai Kibaki e do lider da oposição Raila Odinga continuarão nos próximos dias num local não revelado e pediu de novo a todos para respeitar um rigoroso "silêncio de imprensa", de modo a assegurar a não pressão nos esforços de mediação.
Fonte: www.misna.org - 12.02.2008 - 11.14h

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sábado, fevereiro 9

Quénia: enviado da ONU já está no país.

O coordenador da ONU para emergências humanitárias, John Holmes, chegou ontem ao Quénia para coordenar as acções de ajuda humanitária no país.
Hoje visitou já dois locais afectados pela violência: Nakuru e Molo na região noroeste do país, onde se concentram em campos de refugiados mais ou menos improvisados muitos dos 300 mil deslocados devido à crise política e social no Quénia.
Depois de visitar estes lugares, tendo falado com os próprios deslocados, John Holmes pediu um urgente acordo político pela paz no país.
A visita do enviado da ONU chega num momento em que há esperanças de que uma solução política para a crise ponha fim a esta situação humanitária insustentável.
O enviado disse aos jornalistas que veio ao Quénia para poder testemunhar em pessoa a dimensão dos deslocados que foi provocada por lutas inter-tribais, ao mesmo tempo que dava apoio à mediação levada a cabo pelo Sr. Annan.
"Todos estamos à espera que haverá alguma espécie de acordo alcançado em Nairobi que ajudará para manter a frágil calma que temos vindo a ver pervalecer durante os ultimos dias em áreas como esta", disse Sr. Holmes em Nakuru, onde 11 mil pessoas ficaram sem casa e sendo que muitos deles estão acampados num estádio.
"A alternativa, se não há acordo, eu penso ser de muito maior preocupação no sentido que isso poderá constituir uma razão mais para reiniciar a violência e isso levará a mais pessoas ficarem sem lar e ser obrigadas a fugir, tornando-se muito pior esta tragédia que já se vive neste momento," disse Sr. Holmes à BBC.

Funeral de Deputado
Entretanto, no noroeste do Quénia, foram milhares aqueles que participaram no funeral do deputado David Kibutai Too, morto no meio da violência por um polícia de trânsito durante a passada semana. Raila Odinga disse aos seus apoiantes que qualquer acordo a vir a ser alcançado não será nunca de desconsideração "pela justiça dos Quenianos."

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sexta-feira, fevereiro 8

Quénia: Kofi Annan diz que há progressos 2

Annan: "Grandes progressos nas negociações"

"Estamos a fazer grandes progressos. Conseguimos avançar bastante nas negociações. Os dois partidos concordam em dizer que é necessária uma solução politica para a crise. Espero que a próxima semana teremos ulteriores detalhes": disse Kofi Annan, ex secretario geral da ONU encarregado pela União Africana (UA) das negociações da crise queniana, ao terminar um encontro à porta fechada com o presidente Mwai Kibaki e o lider do principal partido da oposição (ODM) Raila Odinga. "Há optimismo" sublinhou Annan, dizendo no entanto que é ainda muito cedo para falar de governo de unidade nacional. Depois do encontro, Kibaki e Odinga encontraram-se separadamente com os dirigentes dos respectivos partidos. Falando à imprensa internacional, William Rutto, negociador pelo ODM, referiu por sua vez que os partidos tinham chegado a acordo sobre a intenção de formar um governo de unidade: "Concordámos finalmente que há um problema no país e que nenhum dos dois partidos pode andar para a frente por si só. Os detalhes sobre o novo governo, a divisão dos cargos e a data são ainda objecto de debate", disse William Rutto. Entretanto o governo revogou a decisão de proibir o direito a manifestações públicas, em vigor já desde o tempo da campanha eleitoral para as presidenciais do dia 27 de Dezembro, justificando a medida com a melhoria da situação de segurança no país.
Fonte: www.misna.org - 8/2/2008 - 20.01h

Veja aqui a reportagem da BBC sobre esta notícia (em inglês)

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Quénia: Kofi Annan diz que há progressos

Apenas há alguns minutos atrás, Kofi Annan, mediador nas negociações no Quénia entre o governo e a opisição, deu uma conferência de imprensa, depois de ter-se encontrado com o presidente Kibaki e o lider da oposição Raila Odinga.
Nesta sessão duas coisas foram acordadas:
1. Que os lideres (Kibaki e Raila) suportem os pontos de progresso alcançados pelas duas equipas de negociadores;
2. Reunir o parlamento para lhes apresentar os resultados e acordos até agora alcançados das negociações. O parlamento reunirá, provavelmente, na próxima terça feira.

Aquilo que se realça neste momento é que há caminhos percorridos de forma positiva pelas duas equipas, parecendo que ambas as partes começam a chegar a um entendimento comum, cedendo assim das suas intransigentes posições iniciais.

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Quénia: desenvolvimentos positivos?

Annan convocou para esta tarde um encontro entre Kibaki e Odinga

O chefe de mediação da União Africana encarregada de resolver a crise política e social iniciada pela contestação dos resultados eleitorais de 27 Dezembro passado, Kofi Annan, convocou para esta tarde o presidente Mwai Kibaki e o chefe do principal partido da oposição (ODM) Raila Odinga para um encontro à porta fechada sobre os "progressos" obtidos à mesa das negociações entre as duas delegações. Referem-no os meios de comunicação social quenianos e a BBC, precisando que o encontro a decorrer neste momento em Harambee House, Nairobi, onde está já anunciada para o final da tarde uma conferência de imprensa do ex secretario geral da ONU. Segundo os rumores, no final do face-a-face com os dois protagonistas da crise, Annan deverá anunciar a chegada a um acordo politico entre as partes para formar um governo de unidade nacional interino, o qual terá como tarefas modificar a constituição, renovar a Comissão eleitoral e convocar e preparar novas eleições.
Na violência testemunhada depois do anúncio dos resultados eleitorais - que confirmaram o presidente anterior à frente do país - foram mortas, segundo os ultimo balanços em circulação, cerca de 1000 pessoas terão sido mortas, 300 mil refugiados e deslocados, enquanto que a economia sofreu danos ainda por contabilizar.
Fonte: www.misna.org e BBC

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Quénia: depois da crise de violência... a crise humanitária

Segundo a reportagem da BBC, agora que a crise política e de violência pelo país está a voltar ao normal, começa a dar-se conta da crise humanitária em que o pais mergulhou. São mais de 300 mil as pessoas refugiadas e deslocadas dentro do seu próprio país. Milhares terão mesmo atravessado a fronteira e ter-se-ão refugiado no país vizinho, o Uganda.
Entretanto, numa entrevista à BBC hoje, Kofi Annan confirma que não vê a possibilidade de a curto prazo se realizarem de novo eleições. Pelo menos enquanto a situação se manter assim instável. A solução poderá passar sim por um período mais longo de trabalho e o primeiro a fazer é talvez reeleger a própria comissão eleitoral queniana.

Ver entrevista da BBC aqui (em inglês).

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Quénia: o país abre de novo portas a turistas e investidores

Crise pós eleitoral: Investidores e turistas convidados a voltar

"Vinde e estendei as mãos aos quenianos dizendo-lhes: estamos convosco. Não deixeis que seja só aquilo que ouvistes e vistes através dos meios de comunicação social a fazer os vossos juízos." Disse-o o ministro da informação, Samuel Poghisio, num cuidado apelo aos investidores e turistas estrangeiros, convidando-os a voltar ao Quénia, sublinhando que "a violência é diminuta e a maior parte do país não esteve em confrontos." Poghisio disse que aquilo que sucedeu nas ultimas semanas "será recordado como um período negro da nossa história", acusando os meios de comunicação internacionais de ter "inflamado os eventos" e piorado "a imagem do pais aos olhos do mundo."
Entretanto, no oeste do país os combates diminuiram de intensidade e de número, mas não estão completamente terminados e outras 10 pessoas terão perdido a vida em confrontos ontem na região de Trans Nzoia. A zona, desde há bastante tempo palco de batalhas entre comunidades étnicas por causa da posse de terras, viu intensificar-se a violência a seguir aos tumultos pós-eleitorais.
No que diz respeito às reuniões de mediação entre os dois partidos em Nairobi, terminou hoje mais um dia frenético, depois do partido da oposição (ODM) de Raila Odinga ter acusado o governo de armar os militantes responsaveis da violência nas ultimas semanas. Afirmações declaradas como "grotescas" pela maioria. É por tanto um clima tenso aquele em que as equipas de mediadores dos dois partidos estão a trabalhar. Isso mesmo demonstra o comunicado conjunto difundido hoje ao final da tarde pelos representantes dos dois partidos, segundo o qual, "as negociações prosseguem embora que mais lentamente que nos dias anteriores. De todas as maneiras avançando". Discutem-se nestes dias, no dizer de Kofi Annan, os temas quentes que têm a ver com a dimensão política da disputa eleitoral.
Fonte: www.misna.org -7/2/2008 - 19.51h

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quinta-feira, fevereiro 7

Quénia: ultimas do país

Policia acusado de homicidio

Um policia apanhado pelas câmaras da televisão queniana KTN a disparar sobre jovens manifestantes em Kisumu, está preso e será julgado por homicidio. Nas imagens (clique aqui para as ver) vê-se o policia a dispersar os jovens e a disparar tiros para o ar e a pontapear os jovens encurralados; no entanto, momentos mais tarde os dois jovens são encontrados mortos por outros manifestantes. (notícia da BBC)

10 Deputados quenianos proibidos de viajar para USA
Segundo a BBC, 10 deputados quenianos, do partido do governo e da oposição, foram proibidos de viajar e entrar nos USA, devido às suas possíveis ligações com a violência do ultimo mês no Quénia. São suspeitos de ter incentivado manifestações violentas e de provocar o caos.
Economia muito afectada
A economia dos Quénia está profundamente afectada com o actual estado do país. A BBC faz um ponto da situação num artigo hoje publicado online. Em cerca de um mês os preços dos alimentos básicos aumentaram drásticamente: um kg de batatas custava 25 xelins em Dezembro, hoje custa mais 10 xelins; um kg de alhos passou de 150 para 180 xelins. Apenas alguns exemplos de como quem sofre realmente com toda esta situação são sempre os mais pobres.

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Quénia: Conselho Segurança para "Diálogo e Reconciliação"

Delegação ONU do Conselho de Segurança para
"Diálogo e Reconciliação" chega a Nairobi


"Acabar imediatamente a violência, travar os ataques com base étnica, desmantelar os grupos armados, melhorar a situação humanitária e restabelecer os direitos humanos": pediu o Conselho de Segurança da ONU, na sua segunda declaração lida ontem pelo presidente em exercício o panamense Ricardo Alberto Arias. Expressando "profunda preocupação para o facto de que, não obstante os esforços acordados no passado dia 1 de Fevereiro (as medidas acordadas por ambas as partes na resolução do actual problema), os civis continuam a ser mortos, ser sujeitos a abusos e obrigados a deixar as suas casas", o Conselho acolheu favoravelmente "o anuncio de progressos nas negociações supervisionadas pelo ex secretario geral da ONU Kofi Annan". Por isso, reafirmaram que "a unica solução para a crise reside no diálogo, no compromisso e na reconciliação" exortando os dirigentes politicos quenianos "a assumir as suas responsabilidades, empenhando-se plenamente na busca de uma solução politica sustentável". Julgando "a situação humanitária como catastrófica" o Conselho pediu ainda garantias "na protecção dos refugiados e deslocados internos" evidenciando ainda "a necessidade de evitar a impunidade dos responsáveis pela violência".

Ban Ki-moon, anunciou ainda ontem que junto com John Holmes, que vai coordenar as operações humanitárias no quénia, estará presente também no quénia por 3 semanas uma delegação do Alto Comissariado para os direitos humanos, liderada por Louise Arbour. Esta comissão irá investigar as denúncias de "graves violações dos direitos humanos cometidos nas ultimas semanas"; na sua acção no terreno nestas semanas, a comissão irá encontrar-se com as vitimas, testemunhos, exponentes do governo e da oposição e da sociedade civil. "A verdade e a reconciliação têm uma importância fundamental para por fim à violência e prevenir mais violência", disse Arbour num comunicado.

Distribuição dos grupos étnicos no Quénia



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quarta-feira, fevereiro 6

Quénia: Ban Ki-Moon sobre a situação no Quénia

Kibaki e Odinga: responsáveis pelo futuro próximo do país

Kibaki e Odinga

Ban Ki-Moon, secretário geral da ONU que recentemente visitou o Quénia, disse hoje num discurso diante do Conselho de Segurança que espera que em breve se ponha termo à situação inaceitável que se está a viver no Quénia, responsabilizando o actual presidente Kibaki e pretenso derrotado nas eleições Odinga do futuro próximo do país.

Anunciou ainda o envio do sub-secretario geral da ONU, John Holmes, para a coordenação do apoio humanitário no país. A actual violência provocou em pouco mais de 1 mês 310 mil refugiados e deslocados em 192 distritos.

Entretanto, da zona do Rift Valley continuam a chegar notícias de confrontos violentos: “Na cidade de Litein a policia abriu fogo sobre um grupo de pessoas que se manifestavam diante duma esquadra da policia: dois dos manifestantes foram mortos", disse à MISNA, Francis Murei, membro da Comissão de Justiça e Paz da diocese de Kericho; na mesma zona, numa floresta, encontraram-se cerca de 20 pessoas mortas com ferimentos de armas de fogo e catanas. fontes locais referiram ainda que "estão em curso violentos confrontos na zona de Kitale, na região de Monte Elgon" na zona oeste do país, onde, por causa de um contestado plano governativo para a distribuição de terra, a população Soy e Ndorobo vinha já tendo tensões e violência desde há uns meses. O conflito politico aguçou a situação depois das eleições de 27 de Dezembro passado.
Fonte: MISNA, 6/2/2008 - 19.02h

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Quénia... meu querido Quénia!

Agora que a situação do Quénia saiu dos ecrãs mediáticos (já não há tanta confusão como no mês passado, mesmo que todos os dias continuem a morrer pessoas), creio ser oportuno ir mantendo informações sobre a situação neste espaço.
Inicio com um texto traduzido da revista Nigrizia de Fevereiro 2008, escrito pelo actual Provincial do Quénia dos Missionários Combonianos. Neste texto faz uma análise de como tudo surgiu, os interesses politicos diabólicos em jogo, a importância da estabilidade do Quénia para toda esta região da África e por onde caminhar para resolver a situação.


O fim de uma ilusão!
Quénia, reconstruir a democracia!
Mariano Tibaldi (Sup. Provincial dos MCCJ no Quénia)
Nigrizia , Fevereiro 2008
A violência pós-eleitoral no Quénia pôs por terra a ideia de um país estável, um posto seguro numa região turbulenta. Mas os sinais da crise já se percebiam ainda antes do dia das eleições. Bastava lê-los. Prevaleceu, no entanto, o silêncio. Mesmo o silêncio da Igreja, ela mesma vítima de divisões étnicas.

A violência incontrolada pós-eleitoral no Quénia, deveria ser já esperada. Resultado de uma campanha eleitoral conduzida na base das diferenças étnicas e do recuperar o poder a todo o custo. A questão não é só quem teria cometido sérias ilegalidades nas eleições, mas sim uma política militante que sempre se nutre do encontro étnico, do nepotismo, da solidariedade tribal para recuperar o poder e a riqueza. O conflito étnico como método de intimidação político não é só de hoje. Tem sido usado sistematicamente desde 1992, sempre em tempos eleitorais. Experimentamo-lo nas legislativas de 1992, de 1997 e de 2007. Só as eleições em 2002 escaparam. Mas comparando com as eleições passadas, as de 2007 testemunham maior violência, depois do dia das eleições a 27 de Dezembro passado, com várias regiões do país envolvidas.
Quando a frustração, a miséria, a esperança sistematicamente defraudada dos pobres se misturam com o tribalismo – e portanto tocam na esfera do irracional – tudo se torna ainda mais difícil de resolver. Os políticos que usam a carta tribal, através do uso sistemático da violência e da intimidação – empregando sob a seita dos mungiki (surgida entre os kikuyu numa base étnica e religiosa, mas agora transformada numa verdadeira associação mafiosa), seja dos jovens desempregados dos bairros de lata – terão que responder diante do tribunal da história.
Deveríamos esperar esta crude renascença do tribalismo da pior espécie. A contagem das vitimas e dos refugiados muda dia para dia. As fontes oficiais falam de 600 mortos, enquanto que se contam mais de 250 mil refugiados e deslocados (nota do trad.: a 5/02/2008 contam-se já 1000 mortos e cerca de 304 mil refugiados e deslocados). O episódio mais brutal, entre aqueles conhecidos, foi o incêndio de uma igreja, no dia 1 de Janeiro em Eldoret, no noroeste do país. Teriam sido mortas 50 pessoas – segundo o Daily Nation (jornal queniano) . sobretudo de mulheres e crianças, pertencentes, segundo parece, ao grupo étnico dos kikuyus, o grupo étnico do presidente Mwai Kibaki. Este não hesitou em falar, nos dias seguintes aos confrontos, de genocídio consumado aos seus da sua etnia. Esta mesma acusação foi feita pelo próprio Raila Odinga, o outro contestante da presidência: ele usou o termo genocídio – com ressonâncias mediáticas muito fortes, depois do Ruanda – para descrever o comportamento da polícia contra os do seu grupo étnico, os luo. Muitos mortos confirmados em Kisumu, a cidade mais importante da “Luoland” (região dos Luo), parecem ter sido provocados pelos disparos da polícia. Como sempre, também há gente a usar os meios de comunicação de um modo prejudicial e imoral. Naturalmente, como diz um provérbio africano, quando dois elefantes lutam entre si, é sempre a erva a arcar com as consequências. As verdadeiras vitimas desta violência é a gente simples.

As eleições
No entanto, para os observadores internacionais, o processo eleitoral foi ordenado e exemplar, pelo menos no que diz respeito à participação popular. No dia 27 de Dezembro, as pessoas acorreram aos locais de voto ordenadamente, esperando pacientemente nas filas a sua vez de votar, filas essas que em alguns lugares tinham vários quilómetros. Que a população queria uma mudança era evidente. Os quenianos sempre tiveram maturidade suficiente para não se deixar comprar ou encantar pelas promessas eleitorais dos políticos. Estes, foram sempre avaliados pela sua capacidade de honrar os compromissos eleitorais e pelo seu grau de honestidade. Portanto, havia que destronar os políticos corruptos e também os políticos da velha guarda. Fizeram isto precisamente com, entre outros, o ancião vice-presidente Moody Awori, Simeon Nyachae, eterno ministro em qualquer tipo de governo, e Nicholas Biwott, a eminência régia da era do ex-presidente Daniel arap Moi. Os partidos de velha data, como o Ford-K, o Ford-A e, sobretudo, o Kanu (a coligação que esteve no poder ininterruptamente desde a independência até 2002), foram profundamente redimensionados. Foi também pesado o juízo sobre o governo passado de Kibaki: 20 políticos, de entre os seus ministros e vice-ministros, perderam o seu assento parlamentar; entre esses Musikari Kombo, Raphael Tuju, Maina Kamanda: um massacre político.
Mais dura ainda foi a avaliação do grupo linguístico kalemjin do ex-presidente Moi: nenhum dos seus três filhos foi eleito; e assim parecia que Moi tinha acabado de ser uma figura politicamente relevante, pois tinha aconselhado os seus conselheiros de não votar no candidato do Movimento Democrático Laranja (ODM, no acrónimo inglês), Raila Odinga. Estes conselhos pareceram não ter surtido nenhum efeito. ODM assegurou quase metade dos assentos parlamentares: 99 em 222 assentos; o Partido de Unidade Nacional (PNU) de Kibaki, 43. O ODM-Kenya de Kalonzo Musyoka, 15. Os resto dos assentos foi dividido entre os outros 20 partidos presentes nas eleições.
A única esperança de Kibaki para governar com maioria era procurar um acordo com os lideres de ODM-Kenya e dos outros partidos menores. Assim sucedeu. Na formação do novo governo executivo, passou a vice-presidência a Musyoka e diversos ministros próximos deste último nos postos chave. Esta foi uma jogada politica condenada severamente por ODM e que provocou outros confrontos nas principais cidades do país.
Vários comentadores políticos ficaram surpreendidos pelas escolhas de Kibaki, que puseram em dificuldades o próprio presidente do Gana e da União Africana, John Kufuor, que tinha viajado para o país para mediação entre Kibaki e Odinga. Uma mediação por certo falhada. Tanto que Kufuor deixou o Kenya um dia antes do programado, com um fracasso nas mãos.
A meados de Janeiro, as esperanças foram confiadas ao ex-secretário geral da ONU, Kofi Annan. Mas nem Odinga nem Kibaki parecem querer conceder o que quer que seja ao adversário. A estratégia do presidente, ainda assim, parece delineada: envolver forças da oposição (mesmo de ODM?) no seu executivo. Comprar e, como consequência, abrir fendas na oposição, tem sido uma metodologia de governo usado sistematicamente no Quénia. Porém, o primeiro sucesso, pelo menos simbólico, teve-o Odinga, conseguindo eleger, no dia 15 de Janeiro, um homem do seu partido para presidente do parlamento queniano, Kenneth Marende, (105 votos contra os 101 de Francis Ole Kaparo, candidato de Kibaki). São muitos os actores presentes na cena politica para encontrar uma solução para a crise: diplomacia internacional, União Africana, igreja, personalidades de top em diplomacia, mediadores como o bispo sul africano Tutu, organizações não governamentais, etc. Todos se movimentam: é que o Quénia é muito importante para a segurança da região nos Grandes Lagos, seja económica e estrategicamente. A EU decidiu congelar os fundos até à solução da crise.

A Economia
A crise politica levou também a uma crise económica. Com os confrontos e desordem pós-eleitoral, os alimentos começaram a escassear nos supermercados. Assim como os combustíveis (nota do trad.: a querosene é muito usada no Quénia para cozinhar). Em Nairobi assistiu-se a longas filas de pessoas nos supermercados para procurar os bens de primeira necessidade, mas as prateleiras estavam vazias; o pão e o leite aumentaram de preço drasticamente. Os pequenos comerciantes dos bairros de lata fecharam. O fantasma da fome começa a aparecer. No bairro de lata de Korogocho em Nairobi a violência parou durante alguns dias porque as pessoas precisavam de procurar alimentos. É a única ocasião em que se pode dizer que a fome contribuiu para a paz!
A economia estava praticamente parada nos dias em que o país estava perto do caos. As industrias operavam nos 10 a 20 % das suas capacidades. As pessoas dos bairros de lata da capital e da classe operária dos bairros mais populares preferiam ficar em casa. Para Manu Chandaria, ex presidente da Aliança do Sector Privado do Quénia, tomando como exemplo o dia 2 de Janeiro, o governo perdeu 4 mil milhões de xelins (45 milhões de euros) em taxas, vistos e vários exercícios comerciais obrigados a fechar por causa da violência. A bolsa paralisou; as vendas de café e do chá foram adiadas. O xelim queniano perdeu valor nos mercados internacionais. Safaricom, o operador de telemóveis mas importante no Quénia, perdeu, nas duas semanas a seguir às eleições, cerca de 400 milhões de xelins. O problema económico afectou ainda toda a região dos Grandes Lagos (Uganda, Ruanda, Burundi, Sul do Sudão e o oeste da Republica Democrática do Congo), que se serve do porto de Mombasa para as suas importações. É significativo o título do semanário queniano The EastAfrican do dia 7 de Janeiro: «A crise no Quénia: a possibilidade de um colapso económico provoca preocupação nos países da Africa Oriental».
Matérias primas destinadas ao Uganda e Ruanda permanecem bloqueadas durante dias no porto de Mombasa; o petróleo nos depósitos de Kisumu da Kenya Pipeline Company (que representa 60% de todo o petróleo destinado ao Uganda) não pode ser transferido. Arun Devai, presidente do Conselho de Negócios da Africa Oriental, afirma que a violência no Quénia destroçou a economia de Kampala e Kigali e em breve também a do Burundi. A gasolina no Uganda subiu subitamente de um dólar para quatro dólares o litro.
No dia depois das eleições, o caos, a confusão, o medo e a sensação de abandono reinavam nas mentes das pessoas. A violência aumentava e espalhava-se. A gente simples, confundida, não sabia o que estava a suceder e o que reservava o dia de amanhã. Nenhum dos líderes falava, com a excepção de Raila Odinga. Kibaki, depois de empossado apressadamente (e, segundo alguns, já preparado antecipadamente), permanecia em silêncio. Os líderes religiosos também permaneciam calados; a igreja católica, nos seus representantes oficiais «ponderavam a situação».

A Igreja
Este era o momento em que a voz da igreja deveria fazer-se ouvir forte e claramente. Esta era a hora em que os bispos deveriam ter abandonado a diplomacia e adoptar a profecia, para dar uma palavra de esperança e deixar falar a voz da justiça. Este silêncio veio confirmar a percepção de que os bispos não são neutrais no campo político. O mesmo se diga também à igreja das várias denominações, aquelas que «não têm credibilidade para ter o papel de intermediários honestos», como escreveu, não sem polémica, The EastAfrican.
No dia 2 de Janeiro, a Conferência episcopal, através de uma carta do card. John Njue, arcebispo de Nairobi, expressou-se finalmente. Os bispos, condenando o clima de violência e de ilegalidade prevalecente no país, pediram clareza nos suspeitos tumultos e irregularidades no processo eleitoral e propuseram uma investigação judicial para rever a contagem dos votos. Pediram ainda aos dois lideres, Kibaki e Odinga, o diálogo, «para que a violência termine e se restabeleça a paz, baseada na justiça e na fraternidade.»
Estas afirmações reflectiam as palavras de uma carta da conferência dos superiores religiosos do Quénia dirigida no dia anterior aos bispos. Na carta realçava-se a grave culpa moral e graves lacunas legais dos responsáveis da Comissão eleitoral. Sobretudo, denunciava-se o clima de divisão étnica presente no país e a necessidade de trabalhar pela justiça, a paz e a verdade, «evitando que esta nação tão amada por nós caia no caos e no ódio étnico.» Mais ainda, chamava-se a atenção dos lideres políticos e religiosos da sua responsabilidade nesta crise, perguntando-nos até que ponto se sentiam solidários com o povo, que «se sente abandonado, isolado, confuso e desamparado». A carta convidava os bispos a adoptar, junto com os lideres políticos, a criação de um organismo internacional e independente, que ajudasse na solução da crise, propondo métodos adequados para um processo eleitoral livre das interferências dos partidos. Por fim, um pedido aos próprios bispos: «A nossa responsabilidade é de ser objectivamente críticos, muito parra além da fidelidade étnica ou politica».
Esta ultima afirmação punha o dedo na ferida: a divisão na base étnica e politica da mesma Conferência episcopal. Uma divisão que, tanto quanto um pode compreender, especialmente em tempos de crise como este, deveria antes não existir e deveriam mostrar-se unidos e com liberdade de falar com vozes proféticas. A presença de um organismo eclesial acima dos partidos, como a Nunciatura apostólica, deveria chamar os bispos ao seu trabalho pastoral e profético diante do povo e à sua obrigatoriedade moral de independência do poder politico ou da fidelidade étnica. «As pessoas têm a necessidade de ouvir uma mensagem de esperança e de alento dos lideres religiosos deste pais», escreveram os religiosos. Mas como pode ser isto possível se os mesmos lideres não falam com um coração livre?

Que perspectivas?
O EastAfrican teme que a situação de conflito entre Kibaki e Odinga se arraste por longo tempo. A este ponto, deveremos perguntar que farão as forças de segurança e o exercito. O medo é que a divisão étnica possa atingi-los (até agora parecem estar neutros). Primeiro, os dois contingentes deverão começar o diálogo sem pré-condições, conduzido na tolerância e na procura de consenso, segundo as melhores tradições africanas. Um diálogo possivelmente levado para a frente com a ajuda de mediadores independentes e que estejam acima do nível partidário.
A divisão étnica está a aumentar tragicamente. A impressão é a mesma de sempre: que os vários grupos lutam, não tanto por este ou aquele partido, mas pela própria sobrevivência. As etnias mais consistentes, os kikuyus e os luos, parecem ligados ao síndrome de assédio. A voz da razão parece apagar-se perigosamente, deixando espaço para a força do irracional.
Uma das condições exigidas por Odinga é voltar a realizar as eleições. Mas, eleições a curto prazo não são realistas. O clima é ainda muito tenso e sê-lo-á ainda por 3 ou 6 meses. Se eu fosse um habitante de Kibera, Eldoret ou Kisumu, só o facto de acenar a eleições já me aterrorizava. As pessoas não estão preparadas para voltar às urnas a curto prazo. E, mais importante ainda, onde iriam votar as centenas de milhares de cidadãos que foram forçados a deixar as suas casas e zonas de residência, sem sequer saber quando poderão voltar?
Mas existem também razões jurídicas e legais contra esta hipótese. O caos pós-eleitoral foi provocado também pela debilidade do poder judiciário e da sua falta de independência em relação aos políticos. Poderá ser uma saída uma nova constituição – uma das promessas de Kibaki (não cumprida) de 2002 e de Odinga hoje – que limite os poderes do presidente em exercício, favorecendo a independência do poder judiciário e do poder legislativo. Uma nova constituição, porém, em que seria necessário uma maior contribuição de todas as forças politicas e de um governo de unidade nacional, representativo de todos os âmbitos políticos, em que a sua tarefa principal seria elaborar uma nova carta constitucional.
Quem tem pago a factura maior desta crise são os habitantes dos bairros de lata e os pobres confinados ao interior do país, não certamente os políticos e os ricos habitantes dos bairros senhoriais de Karen, Muthaiga ou Parklands (não obstante pertencerem a grupos étnicos diferentes). Nas muitas zonas ricas de Nairobi a vida decorre normalmente. Os pobres, além de não terem nenhuma vantagem de quem está no poder, são regularmente e vergonhosamente usados pelos políticos pouco escrupulosos. Há uns dias, num blog local, li que o Quénia é habitado por duas grandes tribos: «a dos pobres e a dos ricos; a primeira supera numericamente a segunda na ordem dos 10 por 1».
Tradução: Filipe Resende

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