sábado, janeiro 2

CARÍCIAS DE DEUS TÖRORÖT NO NATAL 2009

Uma nova década começou! Há quem diga que temos que esperar até ao início de 2011 para verdadeiramente começar uma nova década. Coisas de calendários. Seja como for… a vida para nós em Pökot continua o seu ritmo de sempre: com momentos de alegria, de profundo sentir do caminhar de Deus Töroröt junto com este povo e ainda com outros mais difíceis e desafiantes, mas também eles repletos de esperança e paz. É esse o desejo mais profundo do povo Pökot para as suas vidas. Estas festividades foram para mim cheias de tudo isto um pouco… ao ponto até de me confundiram com um enfermeiro!
Mães com seus filhos para Baptismo na noite de Natal

Instrumento da Graça de Deus
O Natal de 2009 vai ser por mim recordado como o Natal em que celebrei o sacramento do Baptismo pela primeira vez em África. Baptismo de crianças até aos 5 anos. Talvez alguns possam perguntar: mas o que é que há de diferente? Essencialmente nada. Mas se pensar que para as crianças que baptizei tenha sido a primeira vez que viram um sacerdote, talvez comecemos a ver algumas diferenças. Se pensar ainda que todos estes baptismos foram celebrados no meio de comunidades onde a maioria das pessoas não são sequer baptizados, este momento obtém ainda mais significado.

Uma das crianças baptizadas na noite de Natal

Pensando ainda que estas crianças pertencem somente à 2ª ou 3ª geração de cristãos em terras Pökot, a importância ganha ainda mais sentido. Pensar, por fim, que algumas destas crianças talvez não cheguem à idade adulta devido à alta taxa de mortalidade infantil neste cantinho da África, faz com que me sinta um privilegiado em poder ser um instrumento da graça de Deus para estas crianças e suas famílias.
Para a maioria destas crianças, são as mães as grandes interessadas em baptizar os filhos. Os pais, em raros casos baptizados eles próprios, geralmente deixam a educação dos filhos entregue às mães. Há excepções. Com certeza que sim! E começam a ser cada vez mais pouco a pouco.

No dia de Natal durante a missa

Noite de Natal – quase à luz da vela
Na noite de Natal celebrei a missa numa capela chamada Kitelakapel, uns 25km do centro da missão. Deus abençoou-nos nestes dias com chuva, uma raridade nestas paragens. A noite estava fresca… temia que as pessoas não viessem para a celebração. Mas os meus medos foram infundados. É certo que a celebração deveria começar pelas 8 da noite. Mas como de noite não há sol, é difícil para as pessoas saberem bem ao certo as horas do dia… da noite, neste caso! E depois… pressas para quê? Festa é festa! Celebrar com propriedade é algo que os africanos sabem fazer muito bem.

Baptismos durante o Dia de Natal em Konyao

Comigo estava o Ir. Eduardo, português de “gema” como eu. Está a estudar em Nairobi e foi bonito termos passado o Natal juntos. Juntos chegámos e a primeira coisa foi montar o sistema de electricidade ligado a uma bateria e um “inverter”. Bom… chamar “sistema de electricidade” a uns cabos com 2 lâmpadas ligados a uma máquina que transforma 12volts de uma bateria para 220volts é um nome pomposo. Mas lá conseguimos com uns fios e uns troncos de árvores arranjados no local a servir de postes. Luz já tínhamos… mas a verdadeira LUZ, Jesus Cristo, esse estava a chegar!
Depois de esperar pelos pais que iam baptizar as crianças, os padrinhos e mais pessoas para a celebração, começamos a missa pelas 10.30h da noite. A alegria era grande pois sentíamos que o Deus Menino estava de facto a chegar também para estas crianças pela primeira vez. Foram 22 as crianças baptizadas. A missa foi demorada. Para além do número de baptismos, devemos também explicar e orientar cada passo da celebração como se fosse a primeira vez. De facto, para muitos presentes terá sido a primeira vez que estiveram presentes numa celebração de Baptismo.
No final da celebração, já depois da meia-noite, a festa continuou. Convidaram-nos para uma refeição especial de Natal: farinha de milho (tradicional “ugali”) e galinha cozida com uns temperos/ervas locais. E que petisco! Mas o melhor ainda estava para vir. As pessoas tinham preparado canções e danças… para toda a noite!

Os cristãos distribuindo almoço no dia de Natal

Dia de Natal – a alegria do Baptismo
A alvorada do dia de Natal custou um bocadinho mais. A noite tinha sido mais longa do que o costume. Mas havia mais baptismos e celebração numa outra capela. Desta vez quase na extremidade norte da paróquia. 1 hora de caminho do centro da missão. Konyao é o seu nome. Lá nos esperaram as comunidades de 2 capelas: a anfitriã, Konyao, e uma próxima (1 hora de caminho a pé) chamada Kodera. O mesmo ritual da noite anterior: juntar as crianças, os pais (as mães neste caso!) e os padrinhos para o baptismo e finalizar os detalhes todos para o registo no livro dos baptismos. Foram 16 crianças baptizadas numa atmosfera de alegria super-contagiante e que não deixa ninguém presente sem dar o seu pezinho de dança durante a celebração. Nesta capela existe ainda um grupinho de meninas que chamamos de “alelluia dancers”. Abrilhantaram ainda mais o momento.

O nosso almoço no Dia de Natal - à direita Ir. Eduardo

Mas os verdadeiros “artistas” eram as crianças baptizadas. O sorriso com que algumas acolhiam os óleos santos bem como até a água baptismal, a alegria das mães e padrinhos ao ver os seus filhotes baptizados foram para mim o melhor presente de Natal que um ministro de Deus pode receber. Sem dúvida que a graça de Deus e o próprio Deus atravessam e enchem de graça este momento tão sagrado como é o Baptismo. A alegria sincera e profunda expressa nas caras das crianças, das mães e padrinhos não podia provir de outro lugar senão de Deus mesmo.
No final da celebração, como não podia deixar de ser, o especial almoço de Natal: arroz com pedacinhos de carne de cabra. É um verdadeiro manjar e a comida especial para os dias de festa.

Celebração da Missa no Dia Sagrada Família

Domingo da Sagrada Família – confundido com um enfermeiro
De há uns anos para cá que é tradição celebrar o Baptismo para crianças no tempo de Natal nas várias capelas da missão. No domingo seguinte ao dia de Natal planeamos que iria celebrar na capela de Chepoghe, no extremo sul da paróquia. Porém, havia uma dúvida: seriamos capazes de atravessar os rios sazonais para lá chegar? Tinha chovido bastante nestes dias, uma das maiores bênçãos de Deus para este povo. Decidimos que caminharíamos para lá chegar se assim fosse necessário. E assim partimos. Com maior ou menor dificuldade conseguimos chegar. E já nos esperavam os cristãos da capela anfitriã bem como de uma comunidade vizinha chamada Serewo. Foi necessário ainda esperar um bom tempo até que tudo e todos estivessem prontos para a celebração da missa com os baptismos. Desta vez, a capela era pequena para todos. Daí que celebrámos debaixo da grande e sagrada árvore para os Pökot em frente da capela. No final da celebração foi-me explicado que aquela árvore foi no passado o local de muitas celebrações tradicionais Pökot. Agora foi transformada no local da mais importante celebração: a Eucaristia.

Momento durante a homilia (ao fundo a capela local)

A mesma alegria e o mesmo entusiasmo das outras eucaristias com Baptismos foi vivida também aqui. Ainda que tive que interromper a missa em vários momentos pois cristãos e outras pessoas continuavam a chegar da vizinhança. E aqui há que dar sempre as boas-vindas.
Um momento caricato e engraçado nesta celebração foi o facto de duas das crianças que baptizei não pararem de chorar e berrar sempre que me aproximava para administrar os óleos santos e o sinal da cruz. Até que compreendi a razão. Os paramentos deste dia eram brancos e por isso eu estava todo vestido de branco. Estas 2 crianças confundiram-me, nem mais nem menos, com o enfermeiro do dispensário local. E com razão choravam! É que o que esse homem de branco lhes tinha feito tinha sido somente dar-lhes injecções que fazem doer! E assim fui confundido com o enfermeiro… finalmente acabaram por já não temer a minha proximidade depois de várias tentativas. Peripécias da vida missionária!

Momento durante o Baptismo

Foram de verdade muitas as graças e as alegrias que vivi e continuo a viver com este povo Pökot. Certamente que um Natal muito diferente do nosso lusitano. Mas sem deixar de ser a realização de um sonho missionário também para mim. Sem merecer nenhuma destas graças, louvo a Deus por cada detalhe e cada carícia do seu amor que vou partilhando com este povo amado por Ele, Töroröt.
Logo a seguir ao Natal visitamos uma família para uma celebração muito especial… algo que vos direi que nos ensina qual o real sentido da vida cristã. Encontrei-o aqui, no meio deste povo que pouco a pouco vai conhecendo o Amor de Deus que é sem dúvida um Deus de Amor. Conto-vos tudo no meu próximo post!Até lá… Um Santo e Bom Ano de 2010 para todos vós! Um ano cheio das maiores bênçãos de Deus!

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