domingo, abril 24

Acreditar na Ressurreição pode ser muito simples!

O tempo de Quaresma, e sobretudo a preparação próxima à Páscoa na missão, é sempre cheia de actividades. Numa dessas actividades as lágrimas vieram-me aos olhos. Ao passar o filme sobre a vida de Jesus aos catecúmenos, fui surpreendido por uma expressão de regozijo dos catecúmenos ao verem Jesus Ressuscitado. Expressaram-se com um bater de palmas espontâneo e comovente ao ver Jesus ressuscitado
aparecer aos discípulos depois da sua paixão e morte. Afinal, sem muitas explicações e sem muitas teorias biblicas e teológicas, estes catecúmenos fizeram-me ver que pode ser realmente muito simples acreditar na Ressurreição de Jesus...

P. Filipe com estudantes catecúmenos

Finalmente... o dia do meu baptismo

Ao aproximar-se o Domingo da Ressurreição de Jesus, são muitas as actividades na missão de Kacheliba. Uma das actividades é o curso de formação final para os catecúmenos. Realizou-se na semana passada em 3 locais da nossa (extensa!) paróquia. Aqui no centro da missão cerca de 80 adolescentes e jovens receberam as últimas instruções preparatórias para o Baptismo. Ao todo, em toda a paróquia, são mais de 170 adolescentes, jovens e adultos que serão baptizados neste tempo Pascal. Estes catecúmenos finalizaram um programa de catequeses de 2 anos e vêem agora o dia do seu baptismo chegar. É grande a alegria estampada no rosto de muitos destes catecúmenos... percebe-se que receber o Baptismo significa algo importante para as suas vidas.

Algumas das adolescentes catecúmenas

Junto dos que ainda não O conhecem

O meu tríduo Pascal este ano foi realizado numa das nossas capelas mais antigas da Missão chamada Kodich. Fica a uns 30km norte do centro Kacheliba. Ali tínhamos um grupo de 48 catecúmenos no curso final de preparação para o Baptismo. Desde 4ª feira até sábado receberam as últimas catequeses. Na 5ª feira santa presidi à Última Ceia do Senhor e 4 adolescentes receberam a comunhão pela primeira vez. Tinham sido baptizados quando eram bebés. Obviamente que antes da celebração receberam o sacramento da Reconciliação (pobremente apenas conhecido como “confissão” por muitos!). Um deles, um jovem já crescido, não comunicava sequer em swahili. Só mesmo a língua local Pökot. Já imaginam... eu já “pesco” umas coisas da língua local, mas escutar a sua confissão foi de facto um acto de fé da minha parte! Aliás, não é a primeira vez que isso me acontece.

Depois da celebração passamos o filme sobre a vida de Jesus ao ar livre. São muitas as pessoas, cristãos e não cristãos, que comparecem. Claro que a electricidade essa só mesmo com o gerador. Mas... (in)felizmente passada cerca de 1 hora chegou uma surpresa: a chuva! Chuva aqui é sempre uma benção até porque este ano ainda não tinha chovido. Porém... toda a aldeia em peso teve que “fugir”. E a chuva, sempre tão abençoada nestas paragens, acabou por estragar a “festa”. Mas havia mais no dia seguinte...

Estudantes da escola primária para raparigas de Kacheliba

Na sexta feira santa a celebração da adoração da Cruz começou às 3 da tarde. Pelo meio a Via Sacra que foi percorrida nas ruas da aldeia. E que forma mais eficaz de anunciar a Morte e Ressurreição de Jesus. No regreso à capela eramos já quatro vezes mais pessoas na capela! Seguiu-se o filme da paixão de Cristo. Desta vez fomos acolhidos no salão da escola primária recentemente construído. Veio de novo a chuva mas desta vez estavamos bem acolhidos. Vários cristãos me disseram que nessa noite não ficou ninguém em casa em toda a aldeia. Não os contei mas deveriam ser seguramente mais de 300 pessoas!

O sábado Santo foi o culminar das celebrações... sempre muito adaptadas à realidade local pois claro! 15 baptismos: 10 adolescentes e 5 mulheres adultas. Confesso que a alegria, a concentração e a profundidade de alguns destes neófitos deixaram no meu coração um sentimento de que Deus toca de verdade a vida destas pessoas. Mas nem as quase 5 horas de celebração cansaram esta gente. O filme desta vez foi sobre S. Pedro e os primeiros cristãos após a ressurreição de Jesus. Foi pena que quase a acabar o filme o meu gerador ficou sem “zagolina”! Nada a fazer... ainda assim já cheguei a casa quase às 3 da manhã – contente por Deus me dar a oportunidade de ser sua testemunha da Ressurreição junto deste povo.

P. Filipe de visita a uma escola debaixo da árvore numa das nossas capelas

Liturgias mais ou menos litúrgicas

Devo confessar que as liturgías entre este povo que apenas começa a conhecer Jesus, são tudo menos “ao pé da letra e da rúbrica”! O silêncio, parte tão fundamental da litúrgia para a assimilação do que se celebra é algo que aqui fica um pouco de lado. Para o Pökot tudo o que se relaciona com Töroröt (Deus para este povo) significa entrar na esfera da celebração. Não quer isto dizer que as celebrações deixam de ser menos vividas, menos sentidas. São apenas e essencialmente diferentes. São o espaço de expressão alegre do que acreditam desde há séculos. São sentimentos tradicionais depois trazidos para a liturgia cristã. Com mais ou menos silêncio, com mais ou menos incenso, com mais ou menos ordem e regras litúrgicas, a Ressurreição de Jesus entrou já na vida e no coração de vários cristãos Pökot. É a força da Vida, da Boa Nova da Ressurreição que renova e faz novas todas as coisas em Cristo.

Um dos nossos catequistas anciãos com a sua esposa na sua "boma" (lar)

Desejo-vos a todos uma Santa Páscoa, cheia de significado e profundidade para a luta de cada dia da vossa vida. É lá que o valor da Vida e Ressurreição de Jesus fazem sentido! É lá que Ele quer ser o Caminho, a Verdade e a Vida. Afinal de contas... até porque parece que é de facto muito simples acreditar na Ressurreição de Jesus! SANTA E FELIZ PÁSCOA!

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