sábado, abril 29

Cólera Versus Gripe das Aves

VERSUS
Porque é que não se faz nada?
Porque não somos "PRETOS"*!
Nos últimos dias multiplicam-se as notícias das mortes em Angola por causa da cólera. Desde o início da epidemia, há uns meses atrás, surgiram 25585 casos de cólera em toda Angola. Morreram 941 pessoas. Só desde 13 de Fevereiro até 23 de Abril 2006 (dois meses e meio, portanto), 9931 casos de cólera e 160 mortes nos subúrbios de Luanda.
Há um mês atrás o Governo Angolano dizia que tudo estava sob controle. Parece ser que não. Já nessa altura, ONGs como a Cruz Vermelha, diziam que a situação era muito grave e devia haver intervenção externa para minimizar o problema.
A elite economista lusitana visitou ainda Angola vai agora para 2 semanas. Nem uma referência a esta grave situação. Nem uma medida, uma palavra que seja (pelo menos eu não ouvi!).
Entretanto andamos muito ocupados na possível epidemia que pode surgir da mutação do virus das aves para o ser humano. Que essa realidade e possibilidade está aí e não a podemos menosprezar, é certo! Mas... será que devemos gastar tantas energias e meios numa HIPOTÉTICA (por muito real que seja!) pandemia? Não seria mais HUMANO e RESPONSÁVEL cuidar da pandemia muito mais mortífera neste momento que a gripe das aves?
Talvez não... é que a gripe das aves PODE matar no mundo rico e opolento, insensível e egoísta como é o nosso... ainda que "muito pobres" pertencemos ao 1º mundo, o Norte.
Por outro lado... a cólera não é doença nossa... "eles são pretos que se amanhem"!
Deixemo-nos de HIPOCRISIAS! É tempo de nos deixarmos de palavras bonitas de cooperação entre magnatas e passemos a ser mais humanos, menos insensíveis ao sofrimento alheio, tenha ele a cor que tiver e aconteça ele onde quer que seja.

* Que me perdoem os meus amigos e irmãos africanos pela palavra usada nesta postagem. Não comungo nem de perto com tal linguagem. Faço-o para que se possam dar conta da figura de parvos que fazemos tantas vezes.
Durante o julgamento de Steve Biko (líder negro da revolta contra o Apartheid na África do Sul), quando questionado pelo juíz porque chamavam ao movimento "black movement" sendo eles mais castanhos que negros, respondeu-lhe: "E porque se dizem os senhores brancos se sois mais cor de rosa?"
Comentários para Filipe Resende

2 Comments:

At 29 abril, 2006 22:47, Blogger CA said...

Filipe

Estou de acordo que uma epidemia de cólera exige acção imediata. Mas o caso de Angola é para mim paradoxal pois não é por falta de recursos que não existem em Angola todos os meios necessários. Não sou apreciador destas comitivas de "eyes wide shut" como a que visitou Angola e compreendo que há em Angola pessoas reais e inocentes que sofrem e morrem. Mas o que é que se pode fazer perante líderes como Eduardo dos Santos, Robert Mugabe ou Saddam? O que sugere?

 
At 29 abril, 2006 23:29, Blogger Filipe Resende said...

Caro CA,
Vejo que não perde uma oportunidade de comentar imediatamente qualquer que seja o assunto relacionado com a gripe das aves ou mesmo com a questão PMA. Surpreende-me e questiona-me estar sempre tão em cima do acontecimento! Por que interesses...?
De qualquer forma, obrigado pelo seu comentário.
O meu intuíto nestes posts de opinião não é mais do que sugerir formas alternativas de pensamento, remando contra a corrente do que os meios de comunicação (não sem interesses ocultos!) tantas vezes nos querem fazer pensar.
Creio que a pressão política internacional sobre casos como os que me pede uma sugestão pode de certo fazer algo. Pretendo precisamente que os nossos políticos não pensem que somos gente de "eyes wide shut".
Vivi no Quénia, Africa durante 5 anos. O presidente que governava pertencia à classe que refere. Foram atitudes de pensamento alternativo que ajudaram a derrubar o presidente Daniel Arap Moi depois de mais de 23 anos no poder. Foram atitudes de consciencialização que ajudaram a abrir os olhos às pessoas. Mas isso não se faz de um dia para o outro. Angola necessita de certo um rumo político e de líderes diferentes. Mas também precisamos nós de líderes nacionais que não tenham unicamente em vista um país de oportunidades... um novo colonialismo. E que entretanto não nos "entretenham" com campanhas que desviam a nossa atenção do fundamental, por muito importantes que sejam. Que deixem de se comportar como novos colonizadores, tirando proveito à custa de quem mais sofre. É só isto o que sugiro: pensamento alternativo!

 

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