quarta-feira, setembro 6

Leituras

A economia Invisível

"No seu último livro, Susan Strange, uma economista britânica, mostra que a corrupção e o dinheiro da droga têm um papel provavelmente reduzido quando comparado com uma outra forma de corrupção, ou seja, todas as estratégias utilizadas pelas multinacionais para escapar aos impostos. Por exemplo, se uma empresa tem a sua sede oficial nas ilhas Virgens britânicas, isso não se chama corrupção. Uma multinacional pode escolher o país para onde transfere os seus lucros: a isso chama-se optimização fiscal. Arranja uma forma administrativa de pagar as suas taxas no país onde os impostos são mais reduzidos. É corrupção, mas legal. A corrupção legal é um tema de investigação interessante, mas pouca gente se dedica a ele porque se estende até aos centros de poder. Estima-se que cerca de 50% do dinheiro da droga passa por bancos americanos. Dito de outro modo, os bancos americanos branqueiam metade do dinheiro do narcotráfico. Há formas de pôr termo a este fenómeno, e de facto tentou-se fazê-lo, no início dos anos 80.
Nos Estados Unidos, quando uma grande soma é depositada num banco, esta deve ser objecto de uma declaração junto às autoridades federais. De modo que deixa um rasto escrito. Por volta de 1980, os procuradores federais de Miami aperceberam-se que havia um afluxo de dinheiro aos bancos da cidade. lançaram uma operação "greenblack" (nota de banco), uma investigação criminal visando detectar os bancos que faziam circular o dinheiro ilegalmente. Nomeado «czar da droga» sobre a administração Reagan, George Bush pôs rapidamente cobro a essa operação. George Bush, que falhou a candidatura americana para as eleições presidenciais de 1980, foi escolhido como vice-presidente pelo seu adversário nas primárias, Ronald Reagan. Nesse cargo, tomou sob a sua alçada diversos domínios, entre os quais a desregulamentação federal e a luta contra a droga. Eleito presidente dos Estados Unidos em 1988, George Bush retomou por sua conta os princípios da «guerra contra a droga» decretada por Reagan.
A informação foi publicada por, pelo menos, um repórter muito conhecido, Jefferson Morley, mas os políticos não querem lutar contra os bancos."

In Duas Horas de Lucidez, Noam Chomsky. Editorial Inquérito, 2002, pp. 85-86.