quarta-feira, novembro 19

Entre os mais pobres e abandonados - Quénia

- Pobreza do Quénia em números -

Nem de propósito. Ao meu segundo dia no Quénia, eis publicado no principal jornal queniano, o Daily Nation, os resultados do estudo sobre a pobreza no país. Este estudo foi pedido pelo governo e é revelador do estado actual do país.
Apesar dos resultados apresentados apontarem para cerca de 51% da população queniana viver abaixo do linear da linha de pobreza (2 euros por dia para sobreviver), a verdade é que o país até não está assim tão mal quando comparado com outros países vizinhos. Mas deixem-me falar-vos muito resumidamente dos números.
Num universo de 36 milhões de habitantes, 16,6 milhões viviam abaixo do linear da pobreza em 2006 (data do estudo); em 2002 eram 18,2 milhões os pobres no Quénia.
A fórmula usada na classificação do índice de pobreza é uma combinação entre o dinheiro que cada pessoa necessita por dia para comprar os alimentos e as calorias ingeridas por dia nesses alimentos.
Uma pessoa a viver na área rural necessita de 1562 xelins (cerca de 16€) por mês para alimentação, ao passo que na área urbana necessita de 2913 xelins (cerca de 30€) por mês. Qualquer pessoa que não tenha esta quantia mensal para comprar alimentos é considerada uma pessoa pobre.
Apesar de tudo, a economia tem vindo a crescer cerca de 6% ao ano nos últimos 5 anos. Algumas medidas que ajudaram a este crescimento e redução dos níveis de pobreza foram o facto de se implementar finalmente a educação primária gratuita, bem como a remoção de impostos e taxas nos hospitais, especialmente no caso da malária e serviços de maternidade. Isto permitiu que mais quenianos tivessem acesso aos medicamentos.
Mas os números são duros. Os conselhos mais pobres do país encontram-se entre a tribo dos Turkana onde 96-97% da população é considerada pobre. São ao todo cerca de 450 mil pessoas malnutridas nesta área onde nós, os Combonianos, temos 2 missões, sendo os únicos missionários católicos a trabalhar nesta região juntamente com os Missionários de Guadalupe. As missões localizam-se em Lokori e Nakwamekwi.
Nos 6 conselhos mais pobres do país habitam cerca de 1,2 milhões de pessoas pobres.
Segundo as organizações de saúde mundial uma pessoa necessita de pelo menos 1830 calorias diárias extraídas dos alimentos que ingere. Os cerca de 51% de quenianos pobres não conseguem mais do que 1261 calorias por dia, o que faz deles pessoas realmente necessitadas.
Nas áreas rurais o número de pessoas desnutridas é de 57% e nas cidades é de 39%. Só na cidade de Nairobi, a capital do país, existem cerca de 600 mil pessoas desnutridas.
Outras áreas onde os Combonianos trabalham, como entre os Pokot, concretamente no conselho de Kapenguria, o índice de pobreza é de 70% e em Kacheliba, concelho onde vou trabalhar, o índice de pobreza é de 62%.
Ainda assim só me apetece mesmo louvar o Senhor por, mais uma vez, estarmos aqui no Quénia a seguir as pegadas do carisma de S. Daniel Comboni: Salvar a África com a África sempre enviados aos mais pobres e abandonados. E nós estamos entre os mais pobres deste país. Bendito seja Deus!
Fonte dos dados sobre a pobreza no Quénia: Diário do Quénia “Daily Nation”, pags. 1 a 4 – edição impressa. Disponível online em: http://www.nation.co.ke/

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3 Comments:

At 19 novembro, 2008 23:16, Anonymous Anónimo said...

Olá, coração sei que chegaste bem e eu estou muito feliz por ti.Espero que a tua saude continue em alta, ok?
Teus pequeninos aí devem ter ficado muito felizes...nós não ficamos mais pobres não, ficamos bem ricos, porque o nosso filho da terra foi dar um pouco de si aos outros...
Granda XI-CORAÇÃO
CRISTINA VAZ /TOTOLOTO

 
At 20 novembro, 2008 12:15, Anonymous Anónimo said...

A Humanidade deveria muitas vezes agir como um todo e não como uma individualidade. Talvez assim se prestasse mais atenção a situações tão desumanas como aquelas que relatas e que contrastam tantas vezes com excessos e má distribuição de bens de primeira necessidade.
Por vezes sentimo-nos impotentes mas é melhor, por pouco que seja, fazermos algo do que nada fazer. Se achares que de alguma forma podemos ajudar, por exemplo, através do comércio justo ou doações, dá-nos umas dicas

 
At 21 novembro, 2008 13:40, Blogger Willoughby said...

Quanta felicidade não sentirá por poder levar também um pouco de amor a quem padece.
Muita saúde por essas paragens...
Que Deus o abençoe...
Com um abraço...

 

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