terça-feira, março 14

Sementes do Verbo em terra Pokot



Deus-Amor também
se chama TOROROT

É muito comum pensarmos nos povos em vias de desenvolvimento como pobres, analfabetos, primitivos e sem muita formação.
Quero deixar-vos hoje um pequeno testemunho. Fala-vos de um povo com quem vivi no noroeste do Quénia entre os anos de 1997 a 2002: os Pokot. São pastores. Seminómadas. Apaixonei-me pela sua forma de viver. Simples. Terra a terra. Com Deus sempre presente. Deus que na sua língua se chama Tororot. Um Deus que eles sabem que os ama. Um Deus entrelaçado com cada pedaço das suas vidas.

Relato-vos uma cerimónia tradicional pokot: "Parpara". Fala-nos do valor do perdão e da reconciliação. Não a aprenderam dos missionários, nem muito menos dos outros (muito poucos!) cristãos daquela etnia africana. Está-lhes no sangue. É a sua cultura, tradição e costume.

Sensivelmente um mês antes de uma mãe dar à luz o seu primeiro filho ou filha, as famílias da parte do pai e da mãe reúnem-se. É um dia de festa. Todos os convidados trazem um pouco de leite, chá ou mesmo leite já colhado (para nós algo parecido com o iogurte!). É o seu contributo para a festa.
Na cabana da futura mãe, reúnem-se um dos profetas tradicionais (werkoyon - na língua pokot), alguns dos convidados e as duas famílias. Iniciam a celebração com orações e ladainhas, invocando Deus (Tororot) e todos os antepassaodos. De seguida o profeta derrama uma mistura de cerveja tradiocnal (maritina - na língua pokot) com mel pelo chão. Lê depois a forma como essa mistura se espalha pelo chão, anunciando bençãos e perigos da vida desta criança que vai nascer. Finalmente, as duas familias, reunidas em volta do casal e do profeta, fazem aquilo a que se chama a "purificação" de todo o passado de problemas, tensões e conflitos entre as duas familias. Objectivo: permitir à criança que vai nascer um clima de serenidade e de paz entre as familias dos seus pais. Desta forma está assegurada para a criança as maiores bençãos decorridas duma atitude de perdão e reconciliação entre as duas famílias.
Os Pokot já sabem o que é a reconciliação. Já vivem no seu dia a dia o que significa viver em paz e harmonia tão desejada por Deus e pedida por Jesus Cristo. O trabalho do missionário é descobrir, assim, onde essas sementes do Verbo estão já a actuar no meio dos povos a que é enviado. Não vai levar novidades. Vai aprender a vivê-las junto com o povo a que é enviado.

E que bonita é esta vida missionária...
...Aprendi que também Deus-Amor se chama TOROROT!