Um Casamento Tradicional Pökot
Todos à porta da cancela... fechada!
Uma forma engraçada de "servir" as canecas!
Aspecto da procissão nupcial
Como bons africanos a dita “procissão” devia deslocar-se por uns 30 metros entre a cabana “esconderijo” e a cabana onde as negociações tomaram lugar. Normalmente não toma 2 minutos a percorrer esse espaço. Mas neste dia, passo à frente e passo atrás (de dança!) foram uns bons 20 minutos! Por fim a noiva lá entrou na cabana. Mas o encontro com o noivo não tinha chegado ainda. As raparigas, “damas de honor”, continuaram a dançar cá fora. Cada uma é chamada para ir buscar um dos “amigos do noivo” para que venham diante das moças a cantar e dançar. Ali há um diálogo de cantos procurando dizer se estes “amigos e amigas dos noivos” são por acaso os noivos! É claro que antes que todos acabem de perfilar e serem “julgados” diante das cantoras e dançarinas passa mais meia hora!
Por fim... juntos!
Aqui todos os convidados vão também oferecer os seus presentes. Mais uns 10 minutos de “procissão” a cantar e dançar (mesmo com a chuva a encharcar). Tocou-me a mim e ao catequista que estava comigo abrir as hostes com uma oração e umas palavrinhas. Foi um momento muito bonito e também de evangelização. Isto porque lemos um texto de S. Paulo sobre a vida em casal. Pois claro que se seguiram umas palavrinhas explicativas.
Seguiram-se depois muitos outros discursos e também orações. E digo orações porque estariam ali além de nós outras 5 ou 6 igrejas diferentes com o seu pastor. O noivo é católico, mas a noiva é luterana e os pais dela de uma outra igreja protestante africana aqui da área. Assim que é uma “fartança” tutti-frutti de igrejas pois claro!
Chegou o momento de a mãe da noiva e as irmãs vestirem e darem os seus presentes à mãe do noivo e às suas irmãs. Aqui entendemos irmãs também as cunhadas, as tias e as sobrinhas… é o conceito africano de família alargada. À mãe do noivo uma saia e t-shit novas. Às outras um destes típicos panos africanos que as mulheres usam à volta da cintura e que serve também de saia. As famosas capulanas. São entregues uma por uma, com cada uma a fazer uma festa enorme correndo à volta dos noivos com muita alegria. Pensava eu com os meus botões: que alegria tão grande manifestada por somente lhe terem dado um pano novo! Quanta alegria! E a quantos, noutras partes do mundo, lhes são dadas coisas bem mais valiosas e nem festa se faz, nem um obrigado!!!
Chegou o momento dos convidados oferecerem os seus presentes. Os convidados: os católicos, os protestantes, os jovens de cada uma das igrejas, os vizinhos, os familiares… Os presentes: algumas cabras, ovelhas, canecas de alumínio (usadas para o chá!), roupas, pratos, travessas, termos (onde costumam guardar o chá ainda a ferver) e também dinheiro… O dinheiro é curiosamente posto dentro de uma bacia que está coberta com um pano para que ninguém saiba o que cada um vai dando! Porém ninguém dá mais do que o equivalente a 3 ou 4 euros… uma fortuna para alguns. O salário de um dia de 2,5 euros aqui nesta zona é já um bom salário diário.
Bom… mas a festa ainda não tinha acabado. Teria agora que o noivo tomar a noiva oficialmente da boma dos seus pais e levá-la para a sua casa. Mais um momento de júbilo, claro. Regressamos então para a boma do noivo onde a festa continuou até ao dia seguinte, domingo. O meu colega Hubert foi celebrar a missa numa capela perto e no regresso teve que entrar para a festa também. A mim já se fazia tarde e a chuva tinha feito das suas. Porém, não pude abandonar sem de novo ter comido mais um prato de arroz e feijão… a comida por excelência das festas. Nada de bolos, açucares, pudins flã nem nada do que se lhe pareça!
Como já era quase noite tinha que regressar. Tinha medo que não iria poder atravessar o rio grande que ficava no caminho de regresso. E “meu pensado” (não dito!) meu feito! Como tinha chovido muito era impossível passar com o carro.
Um outro dia cruzando o rio a pé até ao carro
Foi necessário ir procurar uma outra boma para deixar o carro até ao dia seguinte. Atravessámos o rio a pé onde já nos esperava o meu colega Hubert do outro lado do rio com o outro carro. No dia seguinte levei o meu colega a esse mesmo rio, atravessou-o a pé, tomou o carro, foi celebrar a uma capela perto dali e, no final da tarde, já o meu colega pôde regressar e atravessar com o carro pois já não havia água no rio.
E é assim a vida que todos os dias vamos encontrando e agradecendo a Deus. Aventuras que depois de 2 ou 3 vezes já o deixam de ser e passam a ser mais bem “trabalhos” pesaditos depois de um dia de visita às comunidades!
Escrito em 30 Abril 2010
Etiquetas: Animação Missionária, Combonianos, Dia Mundial das Missões, Missão, Missionários, Outubro Missionário, Testemunho, Vida Missionária, Vocação
2 Comments:
Ola, vou sabendo noticias claro,para isso tens o bloog.
Assim vale a pena casar... Tradições com alguma beleza e, para o vosso povo então sim. aí aí
Te esperamos e, com estes novos parocos vai haver grandes trocas de conhecimentos. O Padre Pedro vai pular...
xicoração
Uau! Um casamento por essas bandas é mais uma aventura! :D
Mas são as tradições que dão beleza à multiplicidade de culturas que existem no mundo... cada uma com a sua singularidade! e é, de facto, uma cerimónia bonita! Peculiar, mas muito bonita. E alegre, sem dúvida! :D
Obrigada por partilhares connosco todas estas experências. Ao lê-las, sinto-me como se fizesse parte delas! :)
Continua a escrever... :D
Ah, e até breve! :P *
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