quarta-feira, dezembro 24

Noeli Njema! Bom Natal!


Encontro-me na missão de Kacheliba desde há 3 semanas. Esta missão fica situada no noroeste do Quénia, já praticamente na fronteira com o Uganda. Todo o território da missão fica situado num grande vale, numa região semi-desértica, a savana africana. O território da missão é o semelhante a 2/3 do distrito do Porto… e aqui estamos 3 padres missionários e 3 irmãs, uma delas já com 80 anos! Como podeis imaginar trabalho não falta.
O povo que habita esta região do país é o Povo Pökot. Pastores por natureza, habituados a uma vida dura devido ao clima quente e seco que caracteriza esta região durante quase todo o ano. Devido a isto, é um povo que tem que mover-se junto com os seus animais à procura dos melhores pastos. De facto, para um Pökot, o maior sinal de riqueza é possuir muitas cabeças de gado. O gado é o centro das suas vidas. Ficam admirados quando lhes dizemos que as vacas na Europa podem produzir até 15-20 litros de leite por dia. Aqui quando alcançam os 2 litros de leite já é uma bênção.
Desde que cheguei há cerca de 3 semanas, o meu trabalho tem sido ambientar-me e entrar nas dinâmicas da missão. Pude conhecer os catequistas que colaboram com a missão, uma vez que tiveram o seu encontro de formação apenas uns dias depois de aqui chegar. As pequenas comunidades/capelas da paróquia são cerca de 45, cada uma, geralmente, com um catequista responsável. Sem eles seria impossível levar para a frente o trabalho missionário. Estive também no encontro anual de jovens de toda a paróquia. Eram cerca de 100. Aliás, 75% da população Pökot tem menos de 30 anos de idade. Muita juventude e muita esperança de vida no futuro.
Foi ainda organizado mais um encontro do curso para os catecúmenos, aqueles e aquelas que durante cerca de 2 anos fazem a sua preparação para receber o Baptismo. Os que estão já na fase final de preparação são cerca de 160 em toda a paróquia. Irão receber o baptismo na próxima Páscoa.
Durante este tempo pude também visitar já algumas das capelas e comunidades. Ontem mesmo fui com o meu colega P. Hubert, alemão, celebrar no sopé das montanhas que são o limite da paróquia. Nesta comunidade pediam-nos para podermos passar e celebrar a Eucaristia mais vezes. É que normalmente só podemos celebrar a Eucaristia em cada capela duas ou três vezes por ano.
Durante este tempo fui observando as dinâmicas da missão e aquilo que me espera depois de regressar em Maio do curso da língua swahili (língua oficial do país), que iniciarei na Tanzânia, país vizinho do Quénia, agora no começo de Janeiro. Regressando, terei ainda que estudar a língua local Pökot, mais difícil ainda, mas sem a qual é muito difícil chegar até às pessoas.
Se Deus quiser, este Natal presidirei à minha primeira missa em língua swahili (que já começo a falar!). Na noite de Natal irei a uma comunidade junto com o catequista que depois fará a tradução para a língua local. Será um momento importante da minha vida missionária: presidir à eucaristia, pela primeira vez, na missão que Deus me confiou. Será como a minha “missa nova” na missão.
A seguir publico um pequeno texto sobre o Natal nestas paragens africanas que escrevi como reflexão e mensagem de Natal para enviar aos amigos.

Um menino nasceu para nós… e depois?

Há dias os Pökot do norte do distrito fizeram uma razia junto dos seus vizinhos, os Turkana. Foi em Amakuriat, a outra missão Pökot desta nossa zona missionária, 120km a norte. Há tempos de paz e tempos de roubo de animais e, por vezes, matança de pessoas. Tradicionalmente, só os guerreiros eram vítimas deste tipo de roubos de animais. Ultimamente até crianças e mulheres são mortos.
Em consequência, são várias as pessoas, sobretudo mulheres e crianças, que têm dormido no espaço da missão. Têm medo da vingança do povo vizinho. Alguns jovens Turkana já foram vistos na vizinhança. E não viram com boas intenções… querem vingar a morte das suas mulheres e crianças.

Hoje, domingo antes do dia de Natal, fui com o meu colega, o P. Hubert, celebrar a duas pequenas capelas. São comunidades que têm a celebração da eucaristia apenas duas ou três vezes por ano. São comunidades pequenas. Umas vinte pessoas em cada capela. Entre elas a maioria são mulheres e crianças. Mulheres com mais que uma criança. Uma ao colo e outra pela mão. Numa das capelas, uma das mães amamentava o seu bebé recém-nascido. Perguntei quando tinha nascido. “Há três dias, Padre Filipe!” Respondi: “E apenas com três dias já vieste hoje à celebração?” Eu sabia que teriam de ter caminhado pelo menos cerca de uma hora para chegar à capela. “Não vamos poder celebrar o nascimento de Jesus aqui na capela com a eucaristia. Assim que hoje é como se fosse para nós celebrar o Natal na Igreja” – respondeu-me. E com que alegria o celebraram… entre cantos alegres e sempre com os bebés ao colo. Ao primeiro sinal de choro há que pôr o bebé a mamar. Remédio santo!

Estas duas realidades na missão são o maior desafio que vivemos junto com este povo Pökot. Por um lado as tradições e a vida de todos os dias, onde a vida e a morte são apenas duas personagens da vida de todos os dias que vão de mão em mão. Por outro lado a fé nascente e crescente deste povo que apenas há bem pouco tempo começou a conhecer algo sobre Jesus. A esperança da celebração da vida no nascimento de crianças, a grande fatia da população Pökot, é aquilo que anima os poucos baptizados nesta terra árida e quente do distrito norte Pökot. É a esperança de que este Menino que nasceu para nós, encha de amor e de vida, vida em plenitude (Jo. 10,10), o coração de todos os que olham para a vida com alegria… os que olham para a vida com a esperança da Vida. Não a vida que apenas acaba com a morte, mas a Vida que começa e acaba com o Amor. É esse Amor aquilo que este Menino quer trazer a todos os corações. Aqui em Pökot e também ao meu e teu coração.
Um Menino nasceu para nós… e depois? Que tenho eu a ver com isso? Que tem Ele a ver comigo?

Um feliz e santo natal para todos vós. Que o Menino Deus de Amor, feito Homem para nós, possa encher o teu e o meu coração com as maiores bênçãos: Vida, Esperança, Alegria e acima de tudo Amor.

Relatos da Missão em Kacheliba
North Pokot - Quénia

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1 Comments:

At 25 dezembro, 2008 19:01, Anonymous Anónimo said...

OLÁ.
FELIZ NATAL
NESTE DIA, IGUAL A TODOS OS OUTROS MAS,COM UM SIGNIFICADO DIFERENTE TE DESEJO HOJE E SEMPRE, A REALIZAÇÃO DOS TEUS *SONHOS*
RECEBI TUA MSG, NÃO IMAGINAS A FELICIDADE QUE SENTI...JÁ TINHA OUVIDO A TUA VOZ NA EUCARISTIA E SENTI O TEU ABRAÇO AMIGO DE PARABENS TB.
GRANDAAA XI-CORAÇÃO
(AMIZADE:
É uma corda infinita e com um comprimento indeterminavél*)

 

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